SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Palavra Solta - silêncios meus


*Rangel Alves da Costa


Não temo a vida. Não temo a morte. Tanto faz gato preto ou escada levantada no meu caminho. Gosto de goiabada com queijo e não de doce importado. Causa-me prazer o silêncio, a máxima plenitude do silêncio. Gosto de Offenbach, não nego. Gosto de ouvir Barcarolle ao entardecer. Não beijo a borda da taça por que não bebo mais. Fumaria um charuto cubano se houvesse ao meu alcance. Gosto de estrada nua, de chão, de espinhos e pedras, ladeadas de pequeninas flores do campo. Água fresca bebida com a mão. Repouso debaixo do umbuzeiro. Sinto saudade de incenso. Gosto de acender uma vela rente ao meu oratório. Converso com Deus, a ele tudo digo do meu viver. Não tenho medo de revelar segredos ou pecados. Sou humano, contudo parecido com folha de outono. Sim, gosto do outono com suas cores tristes. Eu também sou triste. Dentro de mim um tanto Clarice Lispector, um tanto Florbela Espanca, uma dor, uma dor. Um grito. Deixo a chuva chegar para sofrer melhor. Eis um tempo bom para sentir saudade. A chuva, a chuva. Engano meu. São apenas meus olhos molhados. Adeus.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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