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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Palavra Solta - cartinha natalina para um amor distante


*Rangel Alves da Costa


O carteiro surpreendeu-se ao ter de entregar uma carta cheirando a perfume. E mais: com dois coraçõezinhos desenhados ao lado do nome da destinatária. Depois de tanto tempo sem se deparar com situações assim, comoveu-se por novamente fazer chegar às mãos de alguém uma carta de amor. E era de amor mesmo. E de um profundo e singelo amor. Lá dentro, com letras trêmulas e linhas em sobe e desce, a terna mensagem natalina de uma amor distante para um amor na distância. “Meu amor, como vai? Desculpe primeiramente dizer que tô morrendo de saudade. Também não se importe com as palavras erradas nem com minha pressa em escrever, é que já tô sem suportar viver assim tão longe de você. Dia e noite no sofrimento pela distância. O coração aperta e tanto me dói que dá vontade de avoar. Deus queira que chova logo por aí e que a terra molhada garanta trabalho e sustento. Enquanto isso vou juntando moeda a moeda para logo voltar. Já comprei um relógio bonito e um diadema pra você. Vou levar anel dourado e perfume de nome difícil de dizer. Mas queria mesmo era tá aí juntinho de você, olhando as estrelas do céu como pisca-pisca de natal. Nesse tempo eu fico ainda mais triste, com muito mais saudade. No último natal a gente comeu galinha de capoeira e pão de padaria, vinho de jurubeba e cocada de frade. E agora mal consigo avistar os prédios enfeitados daqui. Todo vez que olho marejo e choro. E toda vez que choro me escondo debaixo do travesseiro. Tudo pela saudade de você. Já molhei até a folha e não consigo mais escrever. Feliz natal e que o ano novo não separe a gente. De seu amado João”.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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