SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Palavra Solta – sertão, secura e sequidão



*Rangel Alves da Costa


Por todo o sertão sergipano, a secura e a sequidão. Desde muito que não se vislumbra qualquer verdejar na mataria. Desde muito que o fundo do tanque deixou de ser lama para virar barro. Desde muito que o bicho não encontra qualquer folhagem ou capim para matar sua fome. Desde muito que não há nuvem no céu nem esperança de chuvarada. Já são mais de quatro anos de seca terrível, impiedosa, aflitiva demais ao pobre homem do campo. Nem mesmo as cactáceas tão acostumadas com a sequidão estão suportando tanta desvalia da estiagem. O mandacaru secou, o xiquexique esturricou, a palma afinou de dobrar. Pelas estradas e arredores apenas a visão tenebrosa de um mundo cinzento e destroçado pela morte das plantas. Espinhos pontudos parecem mais emagrecidos, as pedras mais entristecidas, a vida em plena e total desilusão. Sem forças, o bicho não muge mais sua dor de fome e de sede. E o homem, aquele cujo olhar nem lágrima possui mais para derramar, apenas entrega sua valia a Deus. Mas enquanto a dádiva sagrada não chega, a morte vai rondando porteira adiante, descampado afora. E de repente uma cruz ossada encontrada onde havia vida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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