*Rangel Alves da Costa
Dizer que o outro é bicho, é estúpido, é
ignorante, é bruto, é violento, é áspero, um desumano, é muito fácil. Dizer que
o outro é tudo menos gente, basta abrir a boca e assim dizer. Dizer que o outro
é insensível, é um algoz, é um carrasco, é um brutamontes, é fácil demais, pois
só abrir a boca ou expressar. Dizer que o outro só tem consigo espinhos, é
ponta de pedra que fere os passos, é um labirinto e seus fantasmas, basta dizer
para se confortar. Dizer que o outro possui um abismo onde deveria ter um
coração, possui o desprezo onde deveria ter atenção, possui a ignorância onde
deveria ter o afeto, basta querer dizer assim e se contentar em se defender.
Dizer que o outro não sabe abraçar, não faz carinho, não sabe amar, sempre
fácil demais quando outra coisa não há a dizer. Dizer que o outro não cantou
sua canção, não falou baixinho ao seu ouvido, não acarinhou a sua pele, soa tão
fácil quanto dizer que o mesmo outro nunca existiu. Pode dizer, pois assim se
diz, e assim se faz. E não adianta dizer que não, falar que nada assim
aconteceu. É melhor deixar pra lá e beber com fel, calar na dor, o que foi
dito. Não adianta contradizer o que não adianta ser contradito. Quando a pessoa
se faz de vítima, e sempre se acha uma borboleta, um passarinho, uma flor
inocente em um jardim, não adianta dizer que é gente e como gente tem seu
punhal tem sua arma, e pode ferir e pode matar. Melhor calar, beber no fel,
calar na dor, e aceitar ser acusado do que não foi, do que não é. Não adianta
dizer que não, pois continuará sendo o mesmo bicho, o mesmo espinho, a mesma
pedra.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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