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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

UM TEMPLO SAGRADO



*Rangel Alves da Costa


Como diria o poeta, apenas quatro paredes levantadas, um telhado de madeira, três portas, umas poucas bancadas e um pequeno e rústico altar, mas céu mais grandioso não há, templo de fé e devoção igual jamais haverá... Assim também com a capelinha miúda desde muito levantada lá nas distâncias matutas e sertanejas do município sergipano de Poço Redondo.
A Capela de Santo Antônio do Poço de Cima surgiu como templo de devoção e fé dos primeiros habitantes da localidade que deu origem a Poço Redondo. Tanta fé existente que mesmo sem paróquia, sem vigário e sem nenhuma igreja oficial na comunidade, os seus primeiros habitantes logo cuidaram de mandar construir aquele templo de oração. Levantada em campo aberto, nas vizinhanças do mato, mas em local estratégico onde todos da comunidade ali pudessem acorrer nas horas de preces e orações.
Tudo nasceu no Poço de Cima, através das famílias Sousa, Cardoso, Lucas e Feitosa, que nas suas raízes possuem quase a mesma gestação. A capelinha foi edificada, pois, como demonstração da fervorosa religiosidade daqueles desbravadores sertanejos. Homens e mulheres se ajoelhavam perante o mesmo altar, perante o mesmo oratório e rezavam as mesmas preces. O fervor religioso era tamanho que quase nada se fazia que não estivesse nos moldes das sagradas escrituras.
Não nasceu, contudo, como capela e cemitério ao lado, ainda que no interior do templo estejam sepultadas personalidades importantes da localidade. Ao redor, nas laterais, os sepultamentos somente eram permitidos aos membros daquelas raízes primeiras. O tempo, o despovoamento do Poço de Cima e o abandono, foram, aos poucos, quase acabando com a capelinha. Relegado ao léu, como que esquecida e lançada ao desejo do tempo, sequer parecia que ali um dia havia fervilhado toda a religiosidade do lugar.
As paredes foram sendo deterioradas, as portas derrubadas, o mato tomando conta de tudo. Até ao esquecimento foi relegada. Do mesmo modo, apenas uns poucos familiares iam até o local para visitar os túmulos de seus entes queridos. A verdade é que a igrejinha, em escombros, quase foi totalmente ao chão, sepultando também tão suntuosa história. Mas o desejo e a abnegação de alguns, principalmente Padre Mário e um grupo de jovens, fizeram renascer aquele primeiro templo religioso.
E a demonstração de que a preservação é tudo. Ou se preserva ou a história de Poço Redondo findará em poeirentos e carcomidos escombros. Hoje, renascida das cinzas e retomada de vida, novamente chama fiéis, cantos e orações são ouvidos, os ofícios e procissões voltaram à sua rotina. E vida longa terá na abnegação de um povo que não quer mais ver perto do chão aquilo que está tão perto do céu.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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