*Rangel Alves da Costa
Como diria
o poeta, apenas quatro paredes levantadas, um telhado de madeira, três portas,
umas poucas bancadas e um pequeno e rústico altar, mas céu mais grandioso não
há, templo de fé e devoção igual jamais haverá... Assim também com a capelinha
miúda desde muito levantada lá nas distâncias matutas e sertanejas do município
sergipano de Poço Redondo.
A Capela
de Santo Antônio do Poço de Cima surgiu como templo de devoção e fé dos
primeiros habitantes da localidade que deu origem a Poço Redondo. Tanta fé
existente que mesmo sem paróquia, sem vigário e sem nenhuma igreja oficial na
comunidade, os seus primeiros habitantes logo cuidaram de mandar construir
aquele templo de oração. Levantada em campo aberto, nas vizinhanças do mato,
mas em local estratégico onde todos da comunidade ali pudessem acorrer nas
horas de preces e orações.
Tudo
nasceu no Poço de Cima, através das famílias Sousa, Cardoso, Lucas e Feitosa,
que nas suas raízes possuem quase a mesma gestação. A capelinha foi edificada,
pois, como demonstração da fervorosa religiosidade daqueles desbravadores
sertanejos. Homens e mulheres se ajoelhavam perante o mesmo altar, perante o
mesmo oratório e rezavam as mesmas preces. O fervor religioso era tamanho que
quase nada se fazia que não estivesse nos moldes das sagradas escrituras.
Não
nasceu, contudo, como capela e cemitério ao lado, ainda que no interior do
templo estejam sepultadas personalidades importantes da localidade. Ao redor,
nas laterais, os sepultamentos somente eram permitidos aos membros daquelas
raízes primeiras. O tempo, o despovoamento do Poço de Cima e o abandono, foram,
aos poucos, quase acabando com a capelinha. Relegado ao léu, como que esquecida
e lançada ao desejo do tempo, sequer parecia que ali um dia havia fervilhado
toda a religiosidade do lugar.
As paredes
foram sendo deterioradas, as portas derrubadas, o mato tomando conta de tudo.
Até ao esquecimento foi relegada. Do mesmo modo, apenas uns poucos familiares
iam até o local para visitar os túmulos de seus entes queridos. A verdade é que
a igrejinha, em escombros, quase foi totalmente ao chão, sepultando também tão
suntuosa história. Mas o desejo e a abnegação de alguns, principalmente Padre
Mário e um grupo de jovens, fizeram renascer aquele primeiro templo religioso.
E a
demonstração de que a preservação é tudo. Ou se preserva ou a história de Poço
Redondo findará em poeirentos e carcomidos escombros. Hoje, renascida das
cinzas e retomada de vida, novamente chama fiéis, cantos e orações são ouvidos,
os ofícios e procissões voltaram à sua rotina. E vida longa terá na abnegação
de um povo que não quer mais ver perto do chão aquilo que está tão perto do
céu.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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