*Rangel Alves da Costa
Não sei o destino do mundo, não sei. Não sei
o que será da vida, não sei. Não sei do instante seguinte, não sei. Mas tudo
feio, tudo esquisito, tudo pesaroso demais. O menino ainda dorme debaixo da
marquise. A menina engravidou aos treze anos, e sem certeza da paternidade. No
menino de doze anos, as mãos já lanhadas do serviço duro, do corte da cana, da
dureza debaixo do sol. A mãe deixa o menino de colo ao desvão da miséria e vai
fazer o pior pelas ruas. Um varal estendido de restos de roupas, de frangalhos,
de indigências. Todo dia há manhã, há cantar de galo, mas nem todo dia há
sequer um pedaço de pão. Os homens chegaram e arrancaram o hidrômetro, cortaram
o gato de luz. A escuridão toma conta do casebre empobrecido. O menino chora, a
infância padece. O fogão de lenha repousa sem brasas, sem fogo, sem panela, sem
qualquer serventia. O calendário da parede cai e elevado pelo vento. A vida vai
assim levada, levada pela ventania... Ou pela tempestade, ou pelo vendaval, ou
pela tormenta da existência sem viver.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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