*Rangel Alves da Costa
Seduza-me... Seduza-me assim sem a nudez
vulgar, sem a permissividade, sem o rebolado forçado das nádegas. Seduza-me
assim sem apelação, sem erotismo libertino, sem querer mostrar o que se deve
imaginar pelo olhar. Seduza-me sem palavras bobas, vãs, apelativas, dando-se
além do que se pode dar. Seduza-me sem a correria do sexo, sem o gozo sem
prazer, sem o sexo prostituto. Você pode, tudo de belo há em você, então
seduza-me...
Seduza-me pela doce palavra, pela poesia na
voz, pelo sussurro saindo do lábio macio. Seduza-me pelo livro que você leu,
pelo personagem que você gostou, pela crítica que você foi capaz de fazer.
Seduza-me pelo interesse por coisas boas, interessantes, capazes de trazer
conhecimento. Seduza-me ao lembrar de Drummond, de Florbela Espanca, de Neruda.
Seduza-me com uma valsa vienense, um noturno de Chopin, uma barcarola de
Tchaikovsky. Seduza-me com os coronéis amadianos, com os corvos de Poe, com as
tragédias shakespearianas. Não pedirei demais. Se disso não for capaz, então
seduza-me apenas pelo que és. Mas seduza-me!
Eu sei que
você possui um corpo de mulher. E não precisa ser mais feminino do que a
feminilidade do corpo. Eu sei que você tem bunda. Eu sei que você tem seios. Eu
sei que você tem boca e lábios. Eu sei que você tem umbigo. Eu seio que você
tem sexo. Ora, basta olhar e confirmar. Aliás, não conheço mulher que não tenha
corpo, bunda, seios, umbigo, lábios, sexo, etc.
Mas não
sabia que uma mulher tivesse que andar quase nua para ser reconhecida como
mulher. Saiba que os olhos do homem não gostam de encontrar a mulher já nua.
Interessa mais ao olhar o despertar, o imaginar sobre o existente abaixo das
roupas. Os olhos desnudam o corpo feminino inteiro. E o que haverá de
interessante numa nudez que é mostrada rua acima e rua abaixo? Então se vista.
Então
adorne seu corpo de roupa. Então seja você mesma sem precisar se exibir. E não
se preocupe que se for bela, mais bela ainda será vestida em beleza e honradez.
Então se mostre na sua inteireza sem precisar de nudez, sinta-se a mais bela
com a roupa mais simples que vestir, sinta-se encantadora de pés descalços ou
sem adorno algum. Você não precisa ser outra para ser a mais bela, a mais
atraente, a mais desejada. Saiba que a sedução não nasce do banal nem da
promiscuidade. Seduzir significa encantar, e não provocar apenas desejo.
Seduza-me
pois és capaz de seduzir-me. Mas por enquanto não diga nada, não se levante,
não caminhe, não corra até o espelho, não passe maquiagem no rosto e nem
precisa se perfumar. Fique aí mesmo e escute:
Tens um
mar. Tens um pomar. Tens um jardim. Tens uma lua e um sol. Tens um paraíso. Um
mar no olhar, um pomar no lábio e na boca, um jardim no corpo, uma lua no
sorriso, um sol no calor da pele. E tens um paraíso. Ora, por qual escada
subirei ao céu senão pelos teus braços dizendo que venha? Mas não precisa
avermelhar de vergonha. Apenas a verdade. Linda, a tudo sintetiza. E de uma
beleza tão bela que o poeta apenas diria: Eis a flor. As pessoas tão vãs, tão
outonais, e uma flor mulher com seu jardim em si mesma.
Bastou-me
dizer o que sinto, o que desejo e o que espero de uma mulher. E dizer o quanto
me seduz a fragrância da feminina simplicidade. Encanta-me, seduze-me...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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