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domingo, 12 de junho de 2016

BÍBLIA E REALIDADE


*Rangel Alves da Costa


A Bíblia, ou livro sagrado do cristianismo, contendo livros do Antigo e do Novo Testamento, possui ensinamentos tidos como absolutos e norteadores da conduta humana. Entremeada de regras, preceitos, normas e leis, delimita a ação na vida terrena e prescreve as consequências para quem violar seus preceitos.
Seus preceitos, contudo, não podem ser vistos senão como um norteamento ou um caminho a ser seguido, e não como exigência de estrita obediência, até mesmo pela impossibilidade de subordinação às suas leis. Ademais, o próprio percurso do mundo foi tornando em desuso muitas daquelas condutas tidas como sagradas e de atrelamento a todo cristão.
Há, contudo, leis gerais que ainda prevalecem e que servem de base para muitas codificações modernas: não matar e não furtar, sob pena de incriminação penal. Contudo, outras, tais como não cometer adultério, guardar o dia de sábado, não adorar outros deuses, honrar pai e mãe e não esculpir e adorar imagens sagradas, já não são fielmente seguidas pela sociedade moderna.
A própria igreja católica possui altares com imagens de santos e da própria santidade maior. Desde os tempos mais antigos que povos elegem outros deuses nos seus cultos, e muitos seguem unicamente tais divindades. O dia de sábado não é guardado pela sua utilização como útil ao trabalho, ainda que em meio expediente. Poucos são os filhos que continuam honrando pai e mãe, vez que se arvoram de donos de seus destinos e negam sua linhagem familiar. Com relação ao adultério, a própria Bíblia se contradiz na sua observância e o mundo moderno logo cuidou de ter como normalidade tal prática insidiosa. A tipificação penal sobre adultério, pela ineficácia de aplicabilidade, acabou sendo revogada no Brasil.
A Bíblia não menciona expressamente os chamados pecados capitais, que foram disseminados no seio da própria Igreja: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Mas em Provérbios consta que são consideradas como abomináveis: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derrama o sangue inocente, coração que maquina planos malvados, pés que correm para a maldade, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia discórdia entre os irmãos.
Os sete pecados disseminados pela Igreja são, na maioria, próprios do ser humano que, em maior ou menor prática, os dissemina nas suas atitudes cotidianas. O orgulho e a soberba, mesmo sendo condutas detestáveis ao indivíduo, são tão corriqueiros que ninguém supõe sequer mais como pecados, mas tão somente como arrogante expressão de status e poder. Por outro lado, a mentira e o falso testemunho são tão corriqueiros que dificilmente se obtém alguma prova verdadeira através da palavra, vez que esta sempre tendenciosa, como, aliás, sempre ocorre com a maioria dos seres humanos. E o que mais se observa são corações maldosos, invejosos e que vivem em busca de contentamento pelo mal do próximo.
Mas a Bíblia contém verdadeiros exageros aos olhos modernos. Com efeito, alguns preceitos soam como impraticáveis, inobserváveis, impossíveis de serem considerados como algo que realmente possa ser acolhido. Assim porque manda oferecer a outra face para ser igualmente atingida, vender tudo o que tem para dividir o lucro com os pobres, silenciar perante as injúrias e abominações, perdoar todo mal e toda pessoa maldosa, dentre outros aspectos. Muito disso é justificado como simbólico pela Igreja, afirmando que a leitura mais aprofundada leva a outro conhecimento das exigências. Mas assim está escrito e é pela escrita que se conhece.
Ademais, determinados costumes citados na Bíblia, e muitos destes tidos como prova de fé e de comunhão sagrada, são tidos como absurdos no mundo moderno. Há uma passagem onde o pai, pela fé, só não matou o filho porque um anjo impediu. Há cordeiros e outros animais constantemente sendo imolados perante os altares, e para o agrado de Deus. Em muitas passagens, o sangue jorra em nome dos sacrifícios sagrados.
Perante a lei moderna, muito do contido na Bíblia se consubstanciaria como ação criminosa. Perante a sociedade atual, muito do livro sagrado foi revogado em nome dos novos costumes e das novas exigências de convívio. Será preciso, pois, depurar seus ensinamentos e acolhê-los segundo a crença e a fé arraigadas em cada pessoa. É esta que faz sua própria lei, moral e de conduta, ajustando-a ao que a Bíblia ensina e diz.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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