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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Palavra Solta - espelhos, retratos, idades


*Rangel Alves da Costa


Os retratos são alentos ao que não volta mais. Os espelhos são desalentos ao que não pode ser diferente. As idades comprovam os outonos dos retratos e as flores que ainda restam no presente. Não seria diferente. Nas paredes, por cima dos móveis, na cabeceira da cama, aquele sorriso antigo, ainda que amarelado, aquele aspecto jovial e cheio de encantamento. Os retratos servem, assim, como relembranças do que fomos um dia. A roupa diferente, o cabelo diferente, mas principalmente a idade diferente. E vão se modificando com o passar dos anos, mudando o olhar, o sorriso, a feição. Nada disso pode acontecer com os espelhos. Mesmo que a pessoa não se sinta com determinado aspecto, não há como fugir daquela realidade. Sim, o rosto cheio de marcas, o olhar sem o brilho de outros tempos, os cabelos mudando de cor, se tornando esbranquiçados, a pessoa em si mesma e na sua nudez de momento. Mas por que assim acontece, quando a pessoa sente contentamento diante do passado fotografado e se vê desalentada ante a realidade do espelho, perante a sua vida presente? A idade, apenas o tempo. E tudo se resume naquela fotografia que não existe mais e no espelho que atormenta por existir com feição tão diferente. Não se pode fugir. A não ser que o espelho seja guardado em baú e o retrato envelheça na parede.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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