SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 9 de junho de 2016

Palavra Solta – eita sol quente da gota!


Rangel Alves da Costa*


Logicamente que não há sol frio. Ao menos no sertão nordestino. Além de não ser frio, é verdadeiramente abrasador. Por isso mesmo que o linguajar popular, assim que os raios descem com mais queimor, logo dizem: eita sol quente da gota serena, eita sol quente de lascar, eita sol quente da molesta. É realmente uma situação afogueada, uma desolação de fazer esturricar o juízo, pois o sol sertanejo é quente demais. Pouco mais das sete da manhã e ninguém mais suporta caminhar debaixo do fogo. A terra lateja, a planta perde viço e cor, folhagem vira cinzas, tronco de pau vira toco. De vez em quando uma coivara se faz sem precisar que ninguém acende o fogo, bastando que a secura dos garranchos chegue ao ponto de combustão. Com gente, então de incinerar mesmo. Basta sair de casa que o suor começa a escorrer, basta andar um pouco mais que tudo começa a avermelhar, e um pouco mais adiante já estará quase em brasa viva. Quem tem chapéu de couro ou de palha ainda suporta um tiquinho, quem encontra sombreado ainda garante um descanso, mas quando nada disso é possível, então só resta implorar para não incendiar enquanto caminha. Agora, se imagine o que acontece com a vaca, o bezerro, o boi, o cavalo, o jegue, com todo tipo de bicho, sem ter um pé de pau que faça sombra. E tenha que passar os seus dias sobre a terra abrasada e debaixo de uma fogueira. É mesmo de doer coração.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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