SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 23 de junho de 2016

Palavra Solta - por que Bastiana chorou ao abrir a porta


*Rangel Alves da Costa


Sebastiana, ou simplesmente Bastiana, mulher forte, sertaneja, sem se dobrar nem se curvar a nada, a não ser às enfermidades e aos desejos de Deus. Acostumada a sofrer, a padecer, a se virar como podia a cada nova estiagem - uma seca mais angustiante que a outra -, fazia da fé seu sustentáculo ante os sofrimentos da vida. Por isso nunca chorava. Sempre dizia que tinha de suportar na firmeza os desígnios sagrados. Mas um dia faltou comida, faltou-lhe o pão, e tudo. Então chorou quando abriu a porta e viu um vizinho que chegava para dividir o quase nada que tinha. E novamente chorou quando, num amanhecer sertanejo, abriu a porta e se viu diante do filho desde muito arribado para terras distantes. Era o retorno mais esperado do mundo, desde muito implorado em promessas, orações e rezas para todos os santos. Contudo, chorou mais ainda ao sentir que o retorno em momento tão difícil, de dificuldades e aflições, seria sofrimento pra dois. Mas calou-se e fez com que ele experimentasse um pedaço de preá na brasa. Era tudo o que tinha. Preocupada com o dia seguinte e os vindouros, não dormiu naquela noite. Mas sentiu um sopro de vento diferente, um murmurejar diferente pelos ares, e abriu a porta para novamente chorar. Era chuva muita que vinha chegando ao seu sertão. Chorou de alegria.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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