*Rangel Alves da Costa
Eu já tentei, mas nunca aprendi a amar. Eu já
amei, segundo o que imaginei ser amor, mas depois descobri que tudo não passava
de ilusão. E desde então eu venho matutando, pensando, refletindo, em busca de
uma resposta para o que seja amor.
Talvez nunca surja uma resposta para o que
seja amor. Um sentimento que se desdobra em mil faces não é fácil de ser
entendido. Ademais, há o amor amado, apaixonado, e há também o amor apenas
querido, apenas desejado. Difícil saber o que se seja amor.
Mas será preciso arriscar em busca de, ao
menos, uma aproximação. Assim, afinal de contas, o que é o amor? Do mesmo modo,
o que o amor não é? Como dito, não são respostas fáceis. E principalmente por
que o que aparenta amor muitas vezes pode se traduzir em seu inverso.
Mas o que é amor? Amor, na relação entre
dois, é a comunhão de objetivos e sentimentos, é o sentir de um para com o
outro, é o enlaçamento dos desejos do corpo, da alma e do coração. Tem-se um
amor assim quando o afeto pelo outro se sobrepõe a tudo o mais, até mesmo o
sexo.
Mas o que não é amor? Não é amor, na relação
entre dois, sentimentos compartilhados por objetivos passageiros, frágeis,
fugazes. Assim como quando o estar com o outro se afeiçoa mais a uma
experimentação corporal, e nada afetiva. Não pode dizer que ama aquele que
finge amar.
Amor é ter prazer com o outro, é sentir
alegria pela existência do outro, é como uma devoção onde o outro assume um
lugar de tamanha importância que passa mesmo a guiar as ações e as emoções.
Amor é o alcance de um tamanho bem-estar que a pessoa se desprende em leve voo.
Amor não é o frívolo, a futilidade, o
passageiro. Amor não é experimentação nem manipulação, não proveito que se tira
para depois saber se vale a pena ou não dar continuidade à relação amorosa.
Amor é cuidar do outro, é se preocupar com o
outro, é amar como se dividido estivesse e a vida só se completa com a junção
da outra parte. Amor é, assim, um profundo e doce e terno contentamento do coração.
Amor não é ocasional, o acaso, o instante. O
amor não é o amasso que se dá na balada e depois segura na mão para levar onde
quiser e fazer o que bem entender. Amor não é promíscuo nem pecaminoso, não é
libertino nem depravado.
Amor é sentir saudade a todo instante, é
chegar à janela e avistar o seu nome na nuvem, é avistar na paisagem algo que
faça recordar o ser amado. É ouvir no silêncio a canção de amor, é cantar tal
canção sem abrir a boca.
Amor não é apenas o sexo, a transa, o gozo, o
possuir. Amor não é fechar a porta e tirar a roupa, não é deitar ao lado e já
querer ficar por cima ou por baixo, não é a pressa orgásmica do nada.
Amor é o afeto, é o carinho, o dengo, a
singeleza como o outro é docemente tratado. É um cafuné, é uma xícara de café
quentinho, é um pedacinho de bolo na boca. Amor é o alimento maior da alma e do
coração.
Amor não é a relação de um dia, dois dias ou
até mais, pois somente aprende a amar aquele que aprende a conhecer o outro, e
isso possui o seu próprio calendário. Não é dizer que ama agora e esperar a
resposta depois. A fruta do amor nunca é temporã.
Amor é ter o outro como amado e como amigo, é
ter o outro como ouvinte e confidente, é ter o outro como aquele que pode
fielmente acreditar, pois ali também parte de sua vida. Nada se esconde no amor
verdadeiro.
Amor não é dizer que ama para agradar, não é
dar flores quando não dá carinho, não é encher de presentes com intenções de
acobertar os erros de rua. Amor é o buquê e o jardim, é a certeza que tudo
doado é por merecimento do amor sentido.
Amor é a palavra amiga, a compreensão do
silêncio, o partilhamento da dor e do sofrimento da pessoa amada. Quanto mais
se ama mais os sentimentos se irmanam de tal modo que a pessoa a ser a outra
pessoa, no seu sentir e no seu amor.
Amor não é fazer ciúmes, não é causar ciúmes,
não é segurar o outro através do medo de perder. Quem ama não ameaça, não
promete a si próprio a desonra para que o outro seja também desonrado. O amor
não é mácula nem covardia.
Amor é o que está em Coríntios: “O amor é
sofredor... Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... O amor nunca
falha...”. É o que está em Camões: “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida
que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem
doer...”.
E você, como ama? Se sentir saudade, está
sentindo amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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