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terça-feira, 10 de agosto de 2010

A RECEITA INFALÍVEL DO AMOR (QUEM VOCÊ QUISER ATRAVÉS DA MAGIA DA MADAME SOFIE) (Crônica)

A RECEITA INFALÍVEL DO AMOR (QUEM VOCÊ QUISER ATRAVÉS DA MAGIA DA MADAME SOFIE)

Rangel Alves da Costa*


Madame Sofie, como gostava de ser chamada, partiu desse para outro mundo como uma pessoa feliz, completamente realizada nas artes do amor, da sedução e da entrega corporal absoluta a todos aqueles que pretendeu amar, ter como amante ou apreciar voluptuosamente por apenas alguns instantes.
Na verdade, Oliulda, que era o nome verdadeiro de Madame Sofie, era um misto de feiticeira, de bruxa, de iniciada nos encantamentos da magia, de curandeira, benzedeira e de mulher da vida, como diziam as más línguas em tom pejorativo. E ela sempre dizia que ser vista como mulher da vida era uma honra para quem tinha a coragem de assumir o que gostava de fazer, e não viver dando às escondidas, como a maioria das ditas bem casadas, beatas e recatadas faziam.
Quando já ia passando dos vinte e cinco anos, que é quase a idade fatal para que as mulheres da vida continuem fazendo vida com sucesso, Oliulda teve um sonho que iria mudar para sempre o seu futuro, e desde então passou a ser conhecida como Madame Sofie.
Desesperada pela escassez de homem, vez que já não estava atraindo mais como desejava, fez de tudo para que os encantados intercedessem de modo que o seu corpo continuasse sendo uma chama inesgotável de prazer e cada homem que a visse passasse a desejá-la como a uma virgem encantadora.
Fez rezas fortes, acendeu fogueiras pelos descampados, jogou as sete ervas do amor nas águas correntes, correu descabelada e nua pelo traçado dos ventos, tracejou mistérios na areia lavada do riacho, juntou as pedras e fez subir o fogo da magia da paixão. E nada de resultado. Por ultimo, numa situação de desespero, ficou uma noite inteira totalmente nua, sob a luz do luar e tendo uma cobra sobre o seu corpo, num rochedo somente conhecido pelos seres da noite.
Quando o dia já ia amanhecendo e Oliulda se sentindo fraca e cansada, sabendo que tanto esforço não havia surtido efeito algum, deu um grito de desespero e adormeceu ali mesmo, em pleno alvorecer, com as cores do dia surgindo para pintar aquele corpo ainda jovem e bonito. E foi nesse adormecer que veio o sonho que transformou totalmente a sua vida.
No sonho, uma estranha mulher vestida somente de espartilho vermelho e rendado, lábios vermelhos, deliciosamente perfumada e fumando com uma piteira dourada, passou a lhe ensinar a receita mágica para que tivesse às suas mãos e aos seus pés o homem que quisesse e quando quisesse e passasse a adquirir a eterna força da atração, onde cada homem que lhe olhasse não enxergasse outra coisa senão a louca vontade de possuir uma vez, mais e eternamente.
Mesmo com tantos poderes, a receita era extremamente simples: mesmo gostando de dar e receber prazeres sexuais, jamais vulgarizar o corpo e torná-lo objeto de qualquer moeda; procurar atrair os homens pela beleza própria do corpo, cuidando para que o mesmo não se desmanche em gorduras nem desapareça feito uma névoa; expressar, através de um corpo vestido sensualmente, porém sem a nudez desnecessária, todo o apetite que nele está contido; despertar, através de roupas simples, limpas e perfumadas, o desejo pelo restante da mulher também simples, limpa e perfumada; ser comedida nas palavras e nos gestos, procurando falar sempre coisas interessantes e verdadeiras e sem negar nas gesticulações e nos hábitos aquilo que diz com a boca. Por fim, valorizar a si mesma, acima de tudo e de todos, pois o reconhecimento dos outros nasce com o reconhecimento que cada uma dá a si própria.
Como o sonho não disse que era proibido ensinar tal receita em troca de algum dinheiro, Oliulda se transformou em Madame Sofie e fez verdadeira fortuna com seus ensinamentos. Porém, por mais riqueza que tivesse juntado, jamais nada se comparou à grandeza de prazeres que passou a ter dali em diante, sem acrescentar ou tirar nada da receita. Amou todos os homens que quis e na hora que desejou, e apenas com a força da mulher que passou a ser.
Como não poderia deixar de ser, morreu enquanto fazia amor com um jovem de dezoito anos. Outros sete nessa mesma idade prantearam na antessala a morte dessa doce e atraente mulher. Que falta ela faria a esses meninos!
Ao dar o último suspiro de prazer e na vida, Madame Sofie já estava com setenta e tantos anos.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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