*Rangel Alves da Costa
“De toda riqueza nossa, abdicamos de ter bens
para nos contentarmos com o sol e a lua, para rabiscar sobre João e Maria, para
ter a mão calejada do sertanejo sobre a nossa, e, dessa riqueza tanta,
encontrar a verdadeira motivação do viver”. De todos os bens, eis a herança
maior: o ser imenso e repleto de sertão!
Eis também o que herdei de Alcino, meu pai: a
filiação sertaneja e o amor ao sertão. De sua partida, o único espólio deixado
foi um imenso legado todo dedicado ao sertão. E foi o que herdei e o que me
tornou o mais rico dos homens.
Ora, anel dourado não é nada, terno e gravata
não é nada. Nada são perante o verdadeiro bem da vida: o amor pelo simples,
pelo povo humilde, pelo que está depois da porta da frente e além do quintal. O
que herdei não compra nada, mas abre todas as portas do mundo através do
aprofundamento e compreensão das realidades.
Minha herança maior, pois, é trilhar os
mesmos caminhos que meu pai trilhou, é contar histórias iguais as que meu pai
contou, é amar o sertão da forma que ele tanto amou. Apenas um pai um filho,
mas um entrelaçamento indescritível com o sentido maior do sertão.
Eu, Rangel, e meu já saudoso pai Alcino,
nascemos dois sertanejos num mesmo berço de terra e sol, num mesmo chão semeado
de flores da história, dos espinhos da luta, dos brotos da esperança e do que
se tem entre passado e presente: uma saga viva e nem sempre avistada.
Além de filho e pai, de pai e filho, eu e
Alcino temos muito em comum. Dizem que na feição eu me pareço muito com ele, o
que me causa sempre contentamento pela certidão pessoal que vai além da
filiação. Quando me avistam e dizem que sou a cara de meu pai, juro que é como
se ouvisse o maior dos elogios.
Contudo, creio que o mais nos identifica são
alguns aspectos relacionados ao sertão: o amor, a devoção, a veneração. Alcino
amou o sertão e me ensinou a amar o mesmo chão. Alcino escreveu e descreveu o
sertão e me ensinou a ter a mesma escrita. Alcino sentiu o sertão no mais profundo
da alma e me ensinou a ser apaixonado pela terra, pelo sertanejo, pela saga de
um povo.
De Alcino eu herdei a melhor parte da
herança, repito. E tal herança eu deixarei naquilo que eu puder legar como
história escrita, como registro passado a gerações e testemunhos de tanta e de
toda nossa riqueza sertaneja.
Eis a maior e melhor parte de minha herança.
Ser filho e caminhar os mesmos passos do pai. Ser filho e honrar o que ele me
legou.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Uma bela história de vida! Fico feliz porque, apesar de ter perdido meu pai aos 22 anos, nunca me esqueci do seu rosto.
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