*Rangel Alves da Costa
Já estou muito velho. Já estou envelhecido
demais. Não sei mais sequer a idade que tenho, eis que chega um tempo no qual
as pessoas nos olham somente como idosos e não como seres humanos comuns. Olho
ao passado e ainda me encontro lá. Há uma janela que ainda não se fechou. Há
uma porta pela qual avisto as dependências da casa, a mesa no meio da sala, a
cozinha, o candeeiro na parede, o oratório numa mesinha de canto e um quadro
grande de Nosso Senhor Jesus Cristo. Olho e ainda avisto tudo isso. Mas dizem
que estou velho, que sou apenas um velho, e envelhecido demais. Tudo bem, que
assim seja. Eles não sabem, contudo, que, sendo assim, eu já me aproximo de ser
novamente criança. Então vou aceitar essa imposição na idade, no estágio de
vida, e corro para envelhecer ainda mais. E como será bom voltar a ser criança,
a ser menino traquina, a soltar pipa, a brincar de cavalo de pau, a correr pelo
mundo sem medo de espinhos no pé. Ora, dizem que os velhos chegam numa fase de
criancice. E esta fase que eu desejo encontrar, que eu quero acalantando ainda
os meus sonhos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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