*Rangel Alves da Costa
Também na
geografia, Poço Redondo, município sergipano e sertanejo localizado no Alto
Sertão do São Francisco, nasceu divinamente abençoado. São 26 km de rio e
beirais, num São Francisco que corre entre montes, serras, pedras e mandacarus.
Poço
Redondo tem Bonsucesso, tem Curralinho, tem Jacaré, tem Cajueiro, e tudo beira
de rio, tudo às margens do Velho Chico. Poço Redondo tem a piscina de águas
límpidas e azuladas do Rio São Francisco em Cajueiro.
E povoado Cajueiro
de tanta história, de tanta memória, de famílias tradicionais que ainda povoam
as raízes da povoação. Um nome que vem de doce fruta, de cajus e cajueiros que
se avolumavam pelas beiradas úmidas e pelos quintais molhados nos tempos
passados. Um verdadeiro pomar sertanejo.
Cajueiro
de cangaceiros, de coiteiros, de políticos, de pescadores, de sertanejos
acostumados ao redor das águas e das brenhas carrasquentas sertões adentro. Cajueiro
do candeeiro antigo e da vela acesa aos pés do velho oratório. Beatas e beatos
nos seus ofícios de fé perante a igrejinha.
Cajueiro
da vida mansa e do burro sendo selado para chegar à cidade. Ou da embarcação
aportada esperando seu viajante. O mesmo Cajueiro da Gruta do Angico e da
Família Félix e de tantos outros troncos familiares. Lourival Félix, Mané Félix,
Adauto Félix, Erasmo Félix, Messias Caduda, tudo vingado e enraizado nas suas
entranhas. Félix, Azevedo, Cruz, Rodrigues, sobrenomes que são também
sobrenomes de Cajueiro.
A pedra
grande no meio do rio e as casinholas que foram levadas ao chão para dar lugar
a suntuosas moradias de forasteiros. As canoas antigas que ainda adormecem às
margens brandas e como em colcha macia das águas cristalinas do rio. Infelizmente,
poucas raízes continuam fincadas daquele Cajueiro de passado tão suntuoso.
Grande
parte de seus moradores - e também muitas famílias - simplesmente migrou para a
sede municipal ou mesmo para as Alagoas, no outro lado do rio. Casas foram
fechadas, portas foram trancadas, e apenas as sombras do passado continuando
saudosamente presentes.
Hoje
Cajueiro é mais do turista, do visitante, daquele que deu vintém numa moradia e
a transformou em casa bonita de final de semana e veraneio. Mas a história não
foi apagada e nem as raízes mais profundas deixaram de existir. Os que
permanecem em seu berço de nascimento continuam regando as flores de amor pelo
seu sertão beiradeiro.
De Cajueiro
ainda vingam doces cajus, assim como Robertinha (Robertinha de Cajueiro) que
cantarola ao sopro da brisa boa e perante o amarelo avermelhado da flor do
cacto: “Do Velho Chico sou, no seu leito de história nasci, vivendo ao seu lado
ainda estou, pois de suas águas um dia eu bebi...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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