*Rangel Alves da Costa
Quem é
Hur? Quem deseja saber sobre Hur? Alguém já ouviu falar de Hur? Hur é alguém,
ou ao menos deveria ser visto como tal.
Acaso seja
visto como pessoa, como humano, Hur não deveria ser reconhecido como tal?
Difícil acreditar que alguns - ou muitos - ignoram totalmente a existência de
outros.
A verdade
é que dificilmente desejam saber sobre Hur. Então, por que o têm como
insignificante, quase como um inexistente ou ocultado perante outras situações
de vida?
Ora, assim
geralmente dizem: quem quer saber de pobre, de carente, daquele que pouco tem a
mostrar além de uma roupa velha e esfarrapada, chinelos aos frangalhos ou mesmo
de pés descalços?
Por isso
que certamente poucos já ouviram falar sobre ele. Na verdade, Hur parece
invisível. E tão invisível que mesmo estando adiante é como se nada ali
estivesse.
Ninguém
gosta de avistar a pobreza, a miséria, a carência de quase tudo. Hur passa e
parece que ninguém passou. Só faltam passar por cima, pisar em seus restos,
dizer que nada viu.
Quando é
avistado, o olhar preconceituoso sempre o desqualifica no mesmo instante. Tudo
é feito, tudo é lastimoso, tudo é evitável em Hur. Que coisa mais abjeta de ser
vista, talvez digam.
Poucos
querem saber da pessoa que há em Hur. Não apenas Hur mais qualquer um que seja
pobre, carente, que viva na carência, na miséria, esquecido nas vielas da vida
ou nos barracos da insensibilidade.
Quase
ninguém o vê semelhante ao próprio homem. Seria doloroso demais aos olhos do
preconceito, da discriminação e da intolerância. Qual olhar de riqueza deseja
ter de encarar uma realidade tão pobre na pessoa de Hur?
Avistá-lo
e reconhecê-lo seria forçoso a imaginar a existência de um coração, de um
sentimento, de pessoa dentro daquela imagem. Talvez seja visto apenas como
bicho. E logo a indagação: e bicho tem coração?
Quem se
preocuparia com o bondoso coração de Hur? Quem tem tempo para saber que Hur
sente fome, sede, é carente e possui necessidades?
Será que
Hur sofre, chora, sente fome, sente fome? Será que Hur tem sentimentos, ama,
deseja, quer? Será que Hur sabe fazer um carinho ou beijar uma boca?
Não. Não.
Não. Amar, viver, ter sentimentos, ser grande, tudo isso é coisa de rico. Hur é
pobre. E pobre deve ser esquecido em todos os sentidos. E certamente apregoam
que pobre não sabe amar, mas apenas estender a mão e pedir.
É melhor
nem avistar, não demoram a dizer. Gente pra ser gente e vista como gente tem
que estar bem vestido e com aparência de quem tem prato e colher, também não
demoram a dizer.
Agora
mesmo Hur passou por ali. Você viu? Nem se quisesse poderia vê-lo pessoalmente.
Ele está em muitos, em milhares, milhões de desvalidos que agora estão nos
escondidos empobrecidos do mundo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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