*Rangel Alves da Costa
Distando
cerca de três quilômetros da cidade de Poço Redondo, no Sertão Sergipano do São
Francisco, e seguindo pela Estrada Histórica Antônio Conselheiro, atual
denominação da Estrada de Curralinho, no lado esquerdo de quem vai, logo se
avista uma placa indicando o Marco de Canário, sinalização indicando que ali
foi território marcante da história do cangaço pelos sertões sergipanos. Ali é
o portal de entrada da antiga e histórica Fazenda Coruripe.
Adiante,
logo após um colchete, as reminiscências da famosa propriedade começam a ser
avistadas, conforme se verá mais adiante. Coruripe é uma derivação da língua
tupi, da expressão “kururype”, que significa "no rio dos sapos". Sua
formação vem da junção do termo “kururu” (sapo), “y” (rio) e “pe” (em). Com
efeito, nos tempos idos, quando as águas do sertão eram mais volumosas e a
vegetação nativa muito mais proeminente, com caatinga fechada e cactáceas por
todo lugar, um riacho com sapos cururus entrecortava suas terras.
No interior
da propriedade ainda pode ser encontrado um leito seco de riacho que, no
passado, escorria em meio aos lajedos e outras formações pedregosas.
Atualmente, aproveitando as pedras ao redor, uma pequena barragem foi construída
para estocar as águas que vão surgindo em épocas de trovoadas. Os cururus não
existem mais, mas a grande Cururipe continua existindo.
Atualmente,
ainda indivisa entre os herdeiros de Seu Odon, seu último proprietário, possui,
além da antiga sede, outras construções antigas e mais recentes. A casa da
antiga sede, já totalmente abandonada, vive à mercê do tempo e da visita do
vento pela porta principal sempre aberta. As paredes de barro, ainda que firmes
em alguns lugares, em outros já desabando e deixando passagens abertas. O
interior praticamente é de escombros, com restos de velhos utensílios
espalhados pelos cantos e por todo lugar. Um pilão com as duas bocas
carcomidas, restos de cestos, forquilhas, pedaços de pau, instrumentos no trato
da terra.
Desde
muito sem uso para moradia, atualmente serve apenas como local para que os
herdeiros deixem ali algum instrumento de trabalho. Um cachorro, contudo,
sempre está por ali, guardião do tempo e das páginas amareladas da história. Ao
lado da antiga sede outra construção antiga, também de barro e cujas paredes e
telhado já estão desabando. Neste local funcionava a igualmente famosa Casa de
Farinha da Fazenda Coruripe. Debaixo do telhado prestes a desabar e defronte de
um arremedo de parede ainda em pé, os restos dos instrumentos que no passado
tanto produziram a boa farinha. A velha moedeira, a prensa, o tacho já quase
comido pela ferrugem, a roda.
Tais
equipamentos, de modo a não serem devorados pela voracidade do tempo, foram
doados pelo herdeiro Ailton ao Memorial Alcino Alves Costa, na cidade de Poço
Redondo e para lá já transportados. Contudo, a importância histórica do
Coruripe continua tão viva quanto imorredoura. Ninguém jamais conseguirá rasgar
sua página histórica tão rica e grandiosa. Dentre de seus cercados e por cima
de sua terra, pelos arredores da casa velha e mais adiante, uma parte da
escrita do próprio Poço Redondo.
A Fazenda
Coruripe já passou por muitos e afamados donos. Já foi propriedade de Julião do
Nascimento, pai de José Francisco do Nascimento, o mesmo Zé de Julião e
Cajazeira (quando cangaceiro no bando de Lampião). Com a morte do velho Julião,
por herança passou a ser do filho Zé de Julião, sendo repassada depois a outros
proprietários.
Foi nas
terras do Coruripe que o cangaceiro Canário, filho de Poço Redondo e
companheiro da também cangaceira e poço-redondense Adília, perdeu usa vida,
traído e morto pelo cangaceiro Penedinho, em 1938. Baleado nas proximidades da
casa velha da fazenda, num lajedos que ladeiam o antigo riachinho, depois de
decapitado por Zé Rufino, reconhecido caçador de cangaceiros e mais ainda de
suas riquezas (que para o local se dirigiu em busca de dinheiro e ouro
porventura existentes). Teve os seus restos sepultados um pouco mais adiante,
debaixo de um umbuzeiro que, ainda em pé, segue como testemunho vivo daqueles
terríveis tempos.
Assim, um
pouco da história da Fazenda Coruripe. Nos seus quadrantes, desde a casa velha
à antiga casa de farinha, passando pela presença cangaceira e as atrocidades
ali cometidas, tudo na grafia inapagável da história sertaneja, e bem ali, bem
ao lado da cidade de Poço Redondo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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