*Rangel Alves da Costa
Temível, terrível, asquerosa é a solidão. Um
ser solitário e metamorfoseado na exata forma kafkiana. Um verme repugnante, um
ser nojento e abominável, um bicho em imprestabilidade rastejante. Membros e
troncos, mente e lucidez, que de nada servem senão para o reconhecimento da
própria desvalia humana. Embaixo da cama, pelos cantos escuros, a miséria
humana latejando a animalidade mais terrificante. Ou seria um lobo uivante na
altura do monte, de caninos afiados e olhos vermelhos pelo fogo da solidão?
Lobo e sua tristeza, sua angústia, seu terrível e voraz sofrimento. Na sua
solidão apenas o uivo, o brado, o grito dilacerado na noite, mas quem o
avistasse certamente encontraria um espectro forçando a existência. Terríveis
sons na escuridão da montanha, ecos que avançam adiante como se quisesse tudo
transformar no mais cruel desalento. Assim o homem na sua solidão. Uma fera, um
bicho, um selvagem, um ser bestial, qualquer coisa ferina que avança e se
consome a si mesma. Um ser animalizado, transformado em irreconhecível
criatura. Uma bestialidade de garras afiadas e pulsações violentas na alma, na
pele, nos olhos, na boca, nos sentimentos. Um ser solto da jaula e preso no seu
próprio labirinto. Uma animalesca figura que sequer se reconhece na sua dor.
Assim descrevo, eis que assim me sinto na solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário