Canto do amor distante
Ao entardecer
de vento e de canto na areia
as palhas dos coqueirais
rezam a mesma prece
que um dia me entreguei
ali na beirada do cais
o verdejar dos coqueirais
acenam o mesmo lenço
que noutros tempos acenei
ao vê-la singrando o mar
oração e lenço
não trazem de volta
nem apagam a saudade
nem a fé e o aceno
chamam de volta
aquela que um dia
partiu para pescar
um sonho todo azul
e se perdeu no mar
não sei se canoa ou mulher
não sei se mar ou estrada
não sei se cais ou porta de casa
não sei se pescador ou solitário
não sei se amante ou abandonado
não sei se eu ou outro eu
não sei se dor ou tristeza
não sei se tarde ou se fim
pois tudo o que sei enfim
é da existência de alguém
que ora e que ainda acena
mas que o meu espelho antigo
se nega a mostrar a face.
Rangel Alves da Costa
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