*Rangel Alves da Costa
Sou o
verso da canção. Ou sou a canção inteira em cada verso. E por isso “Ando
devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais...”. Muito
caminhei, muito já segui pela estrada. E também muito aprendi.
E mais
aprendi com as pontas de pedras, tocos, espinhos e armadilhas, do que mesmo com
as sombras e as flores dos beirais da estrada. Muito mais aprendi com as
tempestades e os vendavais, com os furacões e os temporais, do que com as
calmarias escondendo indesejadas situações.
Os lobos
uivaram pertinho de mim. As serpentes armaram seus peçonhentos botes. As
agarras afiadas se lançaram em minha direção. As presas vorazes e famintas se
agigantaram sobre mim e sobre os meus sonhos. De repente, do nada surgindo o
inesperado aterrorizante e amedrontador. De tudo isso eu me esquivei, eu saí
ileso, eu venci.
Mas, podem
acreditar, diferente é enfrentar as armadilhas humanas, as falsidades humanas,
as covardias humanas, principalmente as traições. Quantas facas e punhais em
sorrisos e abraços. Quantas baionetas e mosquetões em cumprimentos e afagos.
Quantos facões e fios afiados nas palavras ocultadas na mentira. Uma lástima a
selva humana.
Nada mais
sórdido e vergonhoso que a selva humana. Pessoas que não se contentam em serem
pessoas. Gente que não gosta de ser gente. Sempre preferem ser a bestialidade,
a maldade, a aleivosia, a infidelidade, a deslealdade.
Ainda bem
que os labirintos podem ser vencidos. Ao caminhar, ao seguir em frente, o
destemor vai deixando para trás aqueles que se contentam em nada ser. E nada
melhor do que, vencendo o mal, ir seguindo em frente, ir tocando a vida. E, sem
pressa, trilhar a estrada-vida como se fosse andando na própria mão.
E enfim
poder descansar debaixo de um sombreado. E enfim poder beber água fresca da
fonte. E enfim colher a doce fruta do mato para saciar a fome. E enfim deitar
sobre a relva tendo na memória um poema de esperança e encorajamento. E também,
quem sabe, poder levantar asas.
Sim,
levantar asas e voar. Não precisa sair do chão para voar. O homem livre,
liberto, andante cheio de si mesmo, sempre tem o poder de levantar voo e ganhar
os espaços. Como é bom sonhar, como é bom planejar o melhor para os dias, como
é bom abrir janelas e portas e deixar entrar borboletas e passarinhos.
Nem
precisarei olhar para trás. Mas ao olhar, sem pretensão de retornar ou sentir
saudade do que já não vale a pena viver, apenas dizer que nem tudo foi tão
ruim. Da dor e na dor, no sofrimento e na angústia, no dilaceramento e na
lágrima caída, um livro se abriu trazendo mil lições. E como aprendi.
Agora mais
fortalecido, mais encorajado, mais cheio de planos e sonhos. E levando na mente
e no coração a lição da bela canção: “Ando devagar porque já tive pressa, e
levo esse sorriso porque já chorei demais... Como um velho boiadeiro levando a
boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou. Estrada eu sou...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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