*Rangel Alves da Costa
Já estou em Aracaju, já retornei do meu
sertão amado. Os ossos do ofício sempre chamam a outros afazeres que não junto
àqueles que mais amo: caminhar, como meu pai fazia, pelas ruas singelas do meu
Poço Redondo, pelas suas estradas, pelas malhadas das casinhas de cipó e barro.
E juro que fico sempre mais entristecido toda vez que retorno. E aqui na
solidão da capital, em meio ao desencanto da capital, ponho-me então a recordar
aquilo que deixei lá nas distâncias sertanejas daquele mundo meu. Já passados
das seis da noite, exatamente os instantes em que o sertão parece mais belo,
mais reflexivo, mais nostálgico e até melancólico. Noutros idos, pontualmente
os sinos da Matriz ecoavam seus brados como a dizer que chegada a hora da Ave
Maria, da prece, da oração, dos joelhos dobrados perante oratórios. Um instante
em que o candeeiro do sol já se apagou entre as nuvens e os cheiros de cuscuz,
de café, de tripa de porco e ovos, perpassam as cozinhas e vão se espalhando
pelos ares. Um instante docemente chamado de boca da noite. Sim, a noite vem
bela boca aberta dos horizontes, das paisagens, da natureza. O sol vai embora,
a lua desponta, a mataria apenas sussurra, as folhagens dançam ao sabor dos
sopros dos ventos e ventanias. Da cor vermelho afogueada da boca da noite, a
cidade vai sendo tingida por outras cores. As luzes lançam seus amarelos, o
negrume se estende e vai alargando seu manto noturno. A lua desce, passeia, toma
conta de tudo. Mais tarde as pessoas estarão reunidas em proseados, as vizinhas
em suas calçadas, a juventude legislando entre copos na calçada da vereança
municipal, os enamorados procurando seus destinos do coração. Até as portas e
janelas irem se fechando no chamado dos sonos e sonhos. Tudo assim em Poço
Redondo, no meu sertão amado. E eu aqui, apenas eu e a solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário