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quinta-feira, 1 de março de 2012

ALÉM DO SALMO (Crônica)

ALÉM DO SALMO

                                Rangel Alves da Costa*


Os Salmos não se contentam em serem apenas poemas bíblicos ou cânticos de louvor a Deus. São verdadeiros hinários cantados silenciosamente pelo coração, palavras sapienciais que ecoam na alma como verdadeiros bálsamos espirituais.
Mas o Salmo 22, Salmo de Davi, que fala sobre Deus como pastor do homem, está muito além disso tudo. Constitui-se na mais pura expressão de como o manto divino se estende sobre o homem e seus caminhos e, pela sua firmeza, resguarda para cada um a paz nesta e noutra vida.
E pela sua grandiosidade, palavras não ditas, porém contidas nas entrelinhas, é que podemos entender esse Salmo em proporções muito maiores, cabendo a cada um reescrevê-lo pela sua fé e crença na proteção desse bom pastor.
Daí ser possível ter e ser este Salmo e ir além deste Salmo, à medida que também cantamos com o coração outras vozes do seu significado. Por isso mesmo quando está escrito que...
“O Senhor é meu pastor, nada me faltará...”
Ovelha que somos, acompanhadas que estamos, pelos melhores caminhos que seguiremos, guiados pelos campos verdejantes, por entre jardins e arvoredos, bosques e descampados, por onde chega a brisa perfumada dizendo que o bom filho pode sentir-se em paz, pois o seu bom pastor nunca lhe faltará.
“Em verdes prados ele me faz deitar...”
Verdes prados que são os caminhos seguros, as estradas sem erro e sem cansanço, pois seguimos as lições do pastor e já sabemos onde queremos chegar, obedecendo aos seus ensinamentos já sabemos o que poderemos encontrar, continuando fiéis discípulos do seu rebanho já sabemos o que nos aguarda adiante e além.
“Conduz-me junto às águas refrescantes...”
Ao leito do rio que sacia a sede dos justos, à visão do orvalho que surge ao amanhecer depois de afastar a sede da noite, embaixo da gota d’água que cai em pleno sol porque temos sede de verdade e de justiça, ao lado do ribeirão que mesmo vazio e esturricado anuncia ao olhar que ali será lugar de renascimento a qualquer instante. E ninguém que faça parte desse rebanho passará ao longe das águas refrescantes para a alma e o espírito. 
“Restaura as forças de minha alma...”
Porque depois de saciar a sede o homem, mansa ovelha no rebanho divino, deve seguir adiante pelos caminhos que foram ensinados. A cada passo que dá se fortalece ainda mais pela vontade de chegar e alcançar os grandes objetivos da vida. Só tem forças para caminhar, só quer logo encontrar o destino aquele que não teme o que virá. E não temerá porque parte não desgarrada do rebanho.
“Pelos caminhos retos ele me leva...”
O caminho dos justos, da retidão, da honradez, do compartilhamento, da sabedoria. E mesmo ainda no início do caminho já estará enxergando adiante a porta aberta, a casa fortalecida, a família unida, os amigos verdadeiros, a vida em harmonia.
“Por amor do seu nome...”
Tudo em nome do bom pastor, do sábio guia do seu rabanho, aquele que segue pelo caminho, mas já está abrindo outras estradas para outras crias passarem, pois onipresente, onisciente e onipotente. E por isso é tantos em tantos nomes, um Senhor, um Pai, um Deus, um Pastor, um ser que faz o seu rebanho seguir por amor no seu nome.
“Ainda que eu atravesse o vale escuro...”
Porque mesmo nos caminhos retos, iluminados, como todos fortalecidos e já sabendo onde querem chegar, ainda assim haverão contratempos, medos, sustos, espantos, inesperados. Se no doce o sal lhe corta o exagero, em qualquer caminho também sempre haverá a dificuldade a ser vencida, o vale escuro que deverá ser iluminado pela força de cada um no seu bom pastor.
“Nada temerei, pois estais comigo...”
Tudo a escuridão será vencida pela certeza que está sendo guiado pela força invencível do Senhor. Exército de um só pastor e de uma só fé, mas sem haver inimigos com seus batalhões que possam lhe subjugar e erguer a bandeira da vitória. 
“Vosso bordão e vosso báculo...”
O cajado que ampara o pastor, afasta os galhos para o seu passo, também serve para apontar qual o melhor caminho a ser seguido pelo seu rebanho. O báculo que é o mesmo cajado simbolizando o bastão de missionário, é a própria igreja caminhando com suas ovelhas em busca de salvação.
“São o meu amparo...”
A sustentação do homem, do rebanho, da ovelha que segue, através da fé, da persistência, da coragem e principalmente da certeza de estar protegido por aquele cajado, aquele bastão missionário e por aquele invencível pastor.
E então, ao lado desse bom pastor não há caminhada que não seja segura, confortável e graciosa, pois ele “Prepara para mim a mesa/ À vista de meus inimigos/ Unge de óleo minha cabeça/ Transborda minha taça”. E “Graça e misericórdia hão de seguir-me/ Por todos os dias de minha vida/ E habitarei na casa do Senhor/ Na amplidão dos tempos”.
Eis a certeza de Deus, no bordão e no cajado desse bom pastor, porque a fé é o Salmo que escrevemos internamente, no Livro Sagrado do Coração.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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