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terça-feira, 13 de março de 2012

O SEXO ANTIGAMENTE (Crônica)

O SEXO ANTIGAMENTE

                            Rangel Alves da Costa*


Hoje não, que o sexo banalizou-se na maioria das pessoas e o amor não passa de um arremedo de sentimentos, quando há algum resquício, mas antigamente a relação, tanto sexual como amorosa, possuía características próprias e muito diferenciadas.
Infelizmente, nos dias atuais praticamente não há mais namoro. A esta relação hoje dão o nome de ficar, curtir ou todo tipo de denominação depreciativa. A juventude nem sabe o que é um galanteio, um desejo ardente pelo outro, uma cartinha de amor, um versinho enamorado. Rarearam-se os noivados, as alianças de compromisso, a longa e sofrida espera até chegar ao altar.
Os casamentos duradouros parecem também que se tornaram relíquias, coisas impensáveis num mundo moderno de tanto descompromisso de um para com o outro. A viuvez não é mais chorada nem sofrida como antes, nem o sobrevivo respeita a memória do que se foi. Não há mais luto ou recato.
A moda é ter um caso, uma relação extraconjugal, uma convivência desaconselhada, um colocar o nome na lama. Mas com a aceitação da maioria, pois é moda e tem gente que acha bonito demais viver na desonradez e no mau-caratismo. É um tempo de delírios, luxúrias, entregas corporais, abusos e absurdos.
Contudo, os mais velhos lembram-se de um tempo muito diferente, uma época de respeito tanto próprio como perante o outro, dias de consideração e de verdadeira comunhão amorosa e conjugal. Logicamente que desde a primeira luz do mundo que houve a prostituição, o adultério, a traição desavergonhada, mas tais fatos resumiam-se a certas pessoas e em quantidade até identificáveis.
Para se ter uma ideia, o namoro era verdadeiro ritual, desde a paquera ao primeiro encontro e assim por diante. Em muitos lugares, só havia encontro entre o rapaz e a mocinha na presença dos pais desta, e ainda assim se houvesse expressa permissão para o descompromissado romance. Mais tarde houve a permissão para que ficassem sentados, em cadeiras separadas, na sala da casa, e sob permanente vigilância.
Naqueles tempos, moça solteira engravidar era um absurdo, uma desonra familiar sem tamanho. Por isso mesmo providenciava-se urgentemente o casamento. Ora, não havia o costume de namoros com agarrações, chupadas nem lambidas, e muito menos relações sexuais. Se estivessem subindo pelas paredes tinham que antecipar o noivado e o casamento. E bastava o fato de a mulher ter filho antes dos nove meses para que os comentários maldosos corressem a cidade.
E por que os pais faziam isso, ficavam em constante vigilância para que sua filha não fizesse nada antes do tempo? Simplesmente pela cultura da honra, da castidade, da religiosidade, do sentimento moral prevalecente. Um conservadorismo até exacerbado. Geralmente nunca ouviram os seus pais falando sobre sexo, nem pronunciando tal nome por reputarem como coisa familiarmente impronunciável.
Em muitas situações, casavam e passavam uma lua de mel ainda se conhecendo, pois quase não conversavam, não se aproximavam, não sentiam nada um do outro, subsistindo a relação apenas pelo amor que nutriam. No quarto de casal, com as luzes totalmente apagadas, por muitos dias deitavam completamente vestidos, e assim dormiam e acordavam.
Quando os corpos se aproximavam e o desejo sexual aflorava, ainda assim não ficavam totalmente nus nem se permitiam carícias mais provocantes, abraços apertados, beijos sufocantes, nada disso. Como um ritual mecânico, pronto para acontecer, procuravam deixar apenas os sexos livres e assim se entregavam ao prazer metódico, burocrático, quase frio, ainda que os corpos estivessem abrasados.
É difícil de acreditar, mas mesmo estando casados, em lua de mel, não acendiam a lamparina nem o candeeiro por vergonha de mostrar os sexos. E os órgãos sexuais, tão escondidos do olhar do outro, serviam apenas para aquele momento de prazer e depois se escondiam nos seus babados, camisolões, ceroulas ou pijamas.
Mas um dia alguém achou de acender a luz e pronto. Deu no que deu. E hoje, quanto mais o sexo é praticado às claras, quase no meio da rua, mais o parceiro procura o outro e não encontra. E nem precisa saber quem está ao seu lado. Muitas vezes nem conhece.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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