Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
O Bordel de Madame Sofie era o mais prestigiado, afamado e requisitado da região. Não fazia isso no grande salão para não chamar demasiadamente atenção, mas dizem que a famosa cafetina mantinha no seu luxuoso aposento uma verdadeira galeria contendo as fotografias da nata freqüentadora do seu ambiente.
Contudo, afirmavam as más línguas que a grande maioria dos retratados e ali expostos em molduras de luxo, fazia parte do seu imenso currículo de amantes, namorados e apaixonados. Pelo que se denotava na feição ainda firme e vivaz, certamente que a cafetina era mulher encantadora quando mais jovem.
Não só bonita como apetitosa, segundo diziam. E iam mais adiante afirmando que se tratava da própria sereia enlouquecendo os navegadores do seu leito libertino; que era pura magia transformada em mulher e inebriando os incautos apaixonados; que era a única mulher capaz de coronel se arrastar a seus pés, governador mandar carro oficial transportá-la para passeios; poetas e boêmias escreverem versos de desilusão amorosa e depois ficar a noite inteira em prantos olhando para as cortinas da entrada do seu quarto.
Uma coisa ninguém podia negar, que era a imensidão de poderosos que gastavam fortunas para obter os seus dotes prazerosos ou até mesmo se contentar com promessas de futuro aconchego. Ora, todos sabiam do seu romance com o governador e o presidente do tribunal de justiça, fato que gerou uma situação das mais estranhas já vistas até hoje.
Eis que Madame Sofie – à época apenas Sofie, a francesa - fazia tudo para agradar gregos e troianos nas suas entregas sexuais e não provocar, sob hipótese alguma, uma guerra aberta entre os amantes. Contudo, certa vez descuidou e quase provoca um incidente político-jurídico-administrativo sem precedentes.
Fato é que descuidou na agenda e fez o governador encontrar o presidente do tribunal de justiça na mesma porta dos fundos por onde este saía às escondidas. No esbarrão a inevitável surpresa, o espanto, o ciúme exacerbado que naquele instante quase provoca um desastre maior no coração dos dois poderosos.
Prontamente o governador perguntou o que o presidente do judiciário estadual fazia ali e este respondeu que o mesmo que ele pensava em fazer entrando ali daquele jeito, às escondidas, pela porta dos fundos. O governador não gostou do que ouviu e pediu mais respeito, o que o desembargador retrucou dizendo que o respeito era mútuo, pois se o governador chefiava o executivo, ele era o chefe do judiciário.
Vermelho de raiva, com os bofes quase saindo pela boca, o governador disse que no mesmo dia o desembargador perderia sua função e seria aposentado compulsoriamente, por indignidade perante a função exercida, já que freqüentava abertamente casa de prostituição e mantinha um caso com Sofie, a francesa.
E o troco veio no mesmo tom, quando o desembargador disse que antes de sair ia julgar seu impeachment que estava em cima do seu birô. E ademais iria soltar o verbo e dizer que tipo de governante tinha aquele povo, que governava despachando de cima da cama de sua amante francesa, uma prostituta.
Ao ouvir o nome prostituta, Sofie, a francesa, deu um pulo entre os dois e exigiu respeito. Não admitia que uma flor caliente do sexo fosse tratada daquele jeito. E exigiu mais. Ordenou que nem um nem outro dissessem nada se encontrasse o presidente da assembleia legislativa também por ali.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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