A EQUIVALÊNCIA DO NADA
Rangel Alves da Costa*
Por mais que a filosofia pretenda inferir o valor do nada, afirmando-o como um princípio abstrato, desconhecido, tendente a deixar de não-ser para se tornar em algo, creio que não há outro caminho para entender o nada senão como nada mesmo, como coisa alguma.
Ora, a minha filosofia é realista, baseada na exigibilidade de ideia plausível ou ao menos sentir para pressupor a existência de algo. E, como se vê, totalmente contrária à preocupação filosófica original em buscar o entendimento do universo a partir do ainda não conhecido.
Lógico que é sempre instigante pressupor o não-existente para buscar sua existência, mas não creio que na realidade atua valha a pena deixar de lado o provável e o possível para inferir acasos.
Mas até aqui eu não disse absolutamente nada, alguém poderia supor. E com razão. Afinal, qual a filosofia que chega à cor azul ou no ponteiro do relógio, na data do calendário ou no dia de amanhã? Nenhuma.
A filosofia é incerteza, inexatidão, desconhecimento. Mas serei bem claro a partir de agora e apenas para dizer que igualmente à metafísica, que se volta para explicar o mundo através do abstrato, a vida em sociedade se realiza através da filosofia da incerteza.
E porque a vida em sociedade se confirma e se conforma com o abstrato, com a incerteza, com a inexatidão e com o improvável, diria que ela não passa de um nada. E um nada porque é contraditória, se nega e se desconhece.
Sendo assim jamais se afirma e segue um percurso ao menos certeiro; não busca idealizar uma noção de existência que a confirme como uma realidade onde o povo sabe realmente o que quer para si.
A vida em sociedade é, pois, um nada. E o que seria, então, o nada? Filosoficamente, é o não-ser, o oposto ao ser; é uma existência ausente e não sentida. Heiddegger indagava por que existe o ser e não o nada, confirmando, pois, que o nada é a ausência do existir. Na física, o nada é coisa alguma, aquilo que não há no espaço e nem pode ser preenchido num vazio.
De forma mais inteligível, temos então que o nada é coisa nenhuma, o não existente ou a não-existência; coisa vã, nula, o nada mesmo. Assim se diz que o conselho vai dar em nada; do nada, nada se tira; absolutamente nada parece existir na cabeça da juventude; apenas o nada restou após o festim das vaidades.
Contudo, o nada social é o que interessa aqui. Por mais que a sociedade pareça viver cheia de regramentos, de códigos de conduta, de costumes e tradições morais, o que se observa como fundamento maior é a inobservância generalizada disso tudo. Desse modo, todo preceito e toda lição acaba se transformando em nada porque o ser humano sempre insiste em não obedecer sequer a si mesmo.
Até que poderia se dizer que a vida em sociedade é preenchida demais para se pensar em sua nulificação. Mas o progresso, as inovações tecnológicas, os modismos, a feira de tudo que aparece a cada dia não significam absolutamente nada quando o homem não sabe tirar proveito do que lhe colocado ao dispor. A internet, por exemplo, não é absolutamente nada para quem não sabe usufruí-la; a medicina avançada não é absoluta nada para quem não se preserva ou se cuida.
A sociedade é nada porque não encontrou seu caminho, ainda não sabe o que quer, vive em eterna dúvida de sua capacidade. Tudo que se faz é para o presente, para usufruir no instante, num egoísmo e vaidade exacerbados, num materialismo desenfreado.
A vida em sociedade é também nada porque o simples fato de estar vivo, de estar aqui e ter um lugar dentre os demais não significa absolutamente nada para as pessoas. Pelo que fazem, é realmente um tanto faz.
Quando digo que a sociedade é a equivalência do nada, afirmo e reafirmo o que todo mundo sabe e poucos ousam dizer: o ser humano se acha único, importante demais, o centro de tudo, num egocentrismo exacerbado, sem perceber o nada que é. E se a vida não é nada para a pessoa, o que será dela nesse nada que dispõe apenas de um grão no tempo?
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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