*Rangel Alves da Costa
Eu conheço uma comunidade interiorana que
vive na mais absoluta miséria. Miséria mesmo, pois falta de tudo: farinha de
milho, arroz, farinha, feijão, açúcar, ovos, pão, café... e muito mais. Não que
nunca tenha, mas o que tem é muito pouco ou dá pra quase nada, talvez dois
dias, no máximo. Famílias inteiras que vivem a dor e o sofrimento detrás da
porta quase sempre fechada do barraco, da casinhola, da moradia. Passando pela
rua, um monte de casas avizinhadas uma da outra. Quase todas de portas
fechadas. Uma criança de pés no chão brincando ali e acolá, uma pessoa que abre
ligeiramente a porta pra avistar o mundo, um cachorro que late, um gato magro
que passa correndo. Passar e avistar as moradias não quer dizer muita coisa,
pois normal que casas fiquem com suas portas fechadas. Contudo, o que dói é
saber a realidade que há por detrás de cada porta. Meninos famintos, meninos
chorando, panelas vazias, lágrimas e desalentos. O adulto ainda suporta a fome,
ainda espera algo que possa chegar. O difícil é um pai ou uma mãe de família
abrir a boca para dizer que não há nada que possa matar a fome do filho. A
criança não compreende a penúria, a carência, a miséria, apenas quer um pedaço
de pão. Mas o doloroso mesmo é um pai ou uma mãe de família abrir a boca para
dizer que não há nada que possa matar a fome do filho.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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