*Rangel Alves da Costa
Mesmo
estando logo ali, a pessoa ausente pode provocar uma saudade danada. A saudade,
assim, não surge pela distância, pela eterna ausência, pela distância forçada,
mas sim pelo simples fato de não estar perto do outro. Estava num instante e
não está mais, estava juntinho e agora tão separado, estava ao toque das mãos e
dos lábios, mas agora...
Saudade
assim acontece, e muito. Geralmente provocada por uma relação terminada,
desamada, distanciada ou por que alguém achou melhor dar um tempinho depois de
alimentar uma paixão que parecia duradoura, a verdade é que a saudade dói. E
dói mais ainda quando a saudade é de alguém por perto.
Que coisa
mais terrível, mais destruidora, mais tempestuosa! Muitas vezes, o simples ato
de avistar a pessoa motiva ainda mais a saudade, que sempre chega como cruel
punhalada. A pessoa amada por perto e nada mais ter ou sentir que a saudade de
instantes inesquecíveis, de beijos e abraços inebriantes, de instantes colados
um no corpo do outro.
E ao
longe, apenas na réstia de um entristecido olhar, o imenso desejo de correr até
lá e ser recebido com sorrisos e palavras boas. E ficar imaginando aquela boca
que beijou, aquele corpo que abraçou, as promessas sussurrantes e os delírios
dos apaixonados. E na mente surgir um filme daqueles instantes na beira das
águas, das viagens escondidas, dos encontros camuflados por medos das imediatas
descobertas.
Na mente,
tudo isso surge como furacão, como ventania, como vendaval. E a inevitável
pergunta: por quê? As respostas são igualmente dolorosas. O que veio fácil e
partiu não será tão fácil assim retornar. Ou será mais fácil ainda, tudo na
dependência do querer do destino ou do reconhecimento de que a motivação da
separação não pode ser vista como mais forte que o amor. Ou sentimento
parecido.
E na
saudade, na estranha saudade de alguém por perto, a mão procurando a pena para
um singelo poema:
Estava
aqui como flor
e como
outono partiu
em voraz
ventania
folha seca
que caiu
e o jardim
em agonia
na dor que
tanto sentiu
e agora na
distância
ou
distante do olhar
apenas
deixa saudade
como em longo
viajar
que pode
voltar na tarde
bastando
querer me amar.
E os olhos
entristecidos olham além da janela. Ruas e esquinas. Talvez ela volte. O tempo
já passou demais. E talvez ela volte.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário