SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

SAUDADE SEM DISTÂNCIA



*Rangel Alves da Costa


Mesmo estando logo ali, a pessoa ausente pode provocar uma saudade danada. A saudade, assim, não surge pela distância, pela eterna ausência, pela distância forçada, mas sim pelo simples fato de não estar perto do outro. Estava num instante e não está mais, estava juntinho e agora tão separado, estava ao toque das mãos e dos lábios, mas agora...
Saudade assim acontece, e muito. Geralmente provocada por uma relação terminada, desamada, distanciada ou por que alguém achou melhor dar um tempinho depois de alimentar uma paixão que parecia duradoura, a verdade é que a saudade dói. E dói mais ainda quando a saudade é de alguém por perto.
Que coisa mais terrível, mais destruidora, mais tempestuosa! Muitas vezes, o simples ato de avistar a pessoa motiva ainda mais a saudade, que sempre chega como cruel punhalada. A pessoa amada por perto e nada mais ter ou sentir que a saudade de instantes inesquecíveis, de beijos e abraços inebriantes, de instantes colados um no corpo do outro.
E ao longe, apenas na réstia de um entristecido olhar, o imenso desejo de correr até lá e ser recebido com sorrisos e palavras boas. E ficar imaginando aquela boca que beijou, aquele corpo que abraçou, as promessas sussurrantes e os delírios dos apaixonados. E na mente surgir um filme daqueles instantes na beira das águas, das viagens escondidas, dos encontros camuflados por medos das imediatas descobertas.
Na mente, tudo isso surge como furacão, como ventania, como vendaval. E a inevitável pergunta: por quê? As respostas são igualmente dolorosas. O que veio fácil e partiu não será tão fácil assim retornar. Ou será mais fácil ainda, tudo na dependência do querer do destino ou do reconhecimento de que a motivação da separação não pode ser vista como mais forte que o amor. Ou sentimento parecido.
E na saudade, na estranha saudade de alguém por perto, a mão procurando a pena para um singelo poema:

Estava aqui como flor
e como outono partiu
em voraz ventania
folha seca que caiu
e o jardim em agonia
na dor que tanto sentiu

e agora na distância
ou distante do olhar
apenas deixa saudade
como em longo viajar
que pode voltar na tarde
bastando querer me amar.

E os olhos entristecidos olham além da janela. Ruas e esquinas. Talvez ela volte. O tempo já passou demais. E talvez ela volte.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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