*Rangel Alves da Costa
O que a
seguir está escrito é tão real quando o olhar de cada poço-redondense possa
enxergar e quanto seu poder de compreensão de realidade permitir. Portanto, que
não se entenda como texto de viés político ou de crítica administrativa, bem
como invencionices e inverdades.
Pois bem.
Poço Redondo, cidade interiorana no sertão sergipano, cresceu muito, mas muito
mesmo, e muito mais do que possa imaginar aquele que se contenta em estar
andejando somente pela região central da cidade. O Bairro São José, por
exemplo, é uma cidade dentro de uma cidade, é um mundo dentro do mundo Poço
Redondo.
O Conjunto
Lídia Souza, ainda que em extensão bem menor e com menor número de moradores,
igualmente possui uma vida distanciada daquela realidade mais urbana, mais
centralizada. Mas existem algumas diferenças visíveis entre o São João e o
Lídia Souza. Este, por assim dizer, não possui camadas sociais tão
diferenciadas quanto o São José. Se no Lídia não há nem muito ricos nem muito
pobres, assim não acontece com o bairro mais populoso da cidade.
O São José
possui moradias de alto luxo para os padrões locais, possui moradores de bom
poder aquisitivo e até endinheirados, mas também uma situação de miserabilidade
que afronta o senso comum. Quem vê fachada de casa não conhece sua realidade
interior, mas no São José é como se a percepção fosse logo tirando a conclusão
sobre a triste realidade que há.
Casebres
empobrecidos, famílias passando todos os tipos de necessidades, desesperanças e
desalentos pontuando em cada olhar. Pelo que se observa hoje, mas também devido
à migração de muitas famílias e o grande número de assentamentos que foram
surgindo na região, Poço Redondo possui uma feição de pobreza jamais existente
no passado.
Ora, nunca
foi uma cidade rica, bem desenvolvida, mas também nunca foi empobrecida demais
nem de entranhas ossudas. E hoje é perceptível a situação de miséria que vai
pontuando por todo lugar, e sem falar nos novos conjuntos que vão surgindo ao
longo das estradas e que já nascem com a cara do padecimento.
Por outro
lado, e agora rememorado uma exemplificação de como era e como vive agora Poço
Redondo, há que se dizer que a segurança da população já alcançou um patamar
insustentável. Nos tempos idos - e não faz muito tempo -, em tempos de calor
como faz agora, grande parte da população dormia com portas abertas, em
esteiras na calçada ou em redes nas varandas, sem temer qualquer situação de
perigo.
Hoje em
dia, os muros altos, os cadeados nas portas e portões, todos os meios de
proteção que se busque, não significam quase nada ante a escalada criminosa que
está havendo. Ninguém pode sentar em sua calçada com um celular à mão, tornou-se
perigoso demais sair às ruas com o celular, pois logo aparece uma moto com um
bandido em cima e toma de assalto na cara de pau, quando não comete violência.
E isso até mesmo na região central da cidade, à luz do dia, como se a
impunidade movesse esse tipo de delinquência.
Os
bandidos estão tão ousados que até entram nas residências a qualquer hora do
dia para praticar assaltos. A polícia? Sim, onde está a polícia? Esta parece
estar preocupada somente com os sons nas malas de carros. Parou o carro, abriu
a mala, ligou o som, logo a polícia chega para “enquadrar” o abusado. Mas de
vez em quando fazem festas de paredões, com som na maior altura do mundo,
importunado o sossego noturno da cidade inteira, e não vai nenhuma viatura
policial até para dizer que ao menos baixe um pouco aquela pouca vergonha,
aquele desrespeito à população.
Mas nem
tudo são espinhos, como já dizia o poeta Zé Veinho. A vida noturna de Poço
Redondo, no que diz respeito às suas atrações, está se encaminhando
positivamente e com boas opções para os jovens e as famílias. Os bares surgidos
são aconchegantes e convidativos, com bom atendimento e opções diversificadas.
E Poço Redondo merece isso, merece também ter espaços onde os bate-papos
noturnos tenham seus espaços garantidos, até para um lanche, um açaí, um
petisco diferenciado.
E não há
uma população mais festiva e animada que a de Poço Redondo. Não sei onde
encontram tanta botija, mas a verdade é que a juventude e a rapaziada sempre
estão reunidas nos bares, calçadas e meios-fios, curtindo um bate papo regado a
cerveja, e também desejosa de ouvir - e até ouvindo enquanto a polícia não
chega -, um sonzinho do momento: “Não fala não pra mim, bebê, senão eu morro de
beber. Nessa fossa que eu tô, não dá, e é só você pra me salvar. Não fala não
pra mim, bebê, senão eu morro de beber...”.
Escritor
Orgulhoso filho de Poço
Redondo
Nenhum comentário:
Postar um comentário