SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

UMA RECORDAÇÃO (EMBORA TRISTE RECORDAÇÃO)



*Rangel Alves da Costa


Muitos amigos partiram. Velhos companheiros, conterrâneos de fibra, sertanejos de monta. As saudades são muitas.
Todos mereceram seu lugar ao sol e dignificaram suas existências, e, por isso mesmo, deixaram tantas recordações.
Um imenso álbum de adeuses, de nostalgias, de relembranças. Eu já tive que dar adeus àqueles que me fizeram ser luz no mundo.
Meus pais não estão mais aqui. Meu lenço já foi estendido aos avôs e avós, a tios e tias, primos e primas, a uma imensidão de parentes.
Já perdi amigos, já entristeci com a partida de muitos. Minha prima Aninha, Tio Pedrinho, Toinho de Cordélia, Manoel Messias, Jaminho, Zé Delino, Leto e muitos outros.
Mas um dia, lembro-me como agora, no meio da noite, madrugada adentro, Sônia Godoy me telefonou para uma inesperada e desesperadora notícia.
Disse: “Rangel, seu irmão Alcimar sofreu um acidente e faleceu na estrada de Canindé. Marcinho de Zé de Lídia estava com ele e também faleceu. Veja se consegue ir fazer o reconhecimento dos corpos no IML, assim que chegarem”.
O ano era 1993, o mês era julho, o dia era 05. Nascido em 06 de setembro de 1971, Alcimar estava com apenas 22 anos. E Marcinho quase na mesma idade.
Naquela noite trágica, duas jovens vidas deram seu inesperado adeus. Alcimar (na foto abaixo) meu irmão, todo sonhador, cheio de amigos e de muitos planos, e Marcinho, uma doçura de pessoa, amigo de coração.
Triste recordar assim, mas o coração não esquece nem apaga aqueles que pulsam o mesmo sangue e o mesmo afeto. Os lenços continuam molhados. Lembro-me como se fosse agora...  
Doloroso, porém necessário recordar. Ao lado da eterna oração, da vela acesa e do clamor ao sagrado pela salvação das almas, sempre será preciso recordar.
Os afetos nunca acabam. Os laços consanguíneos eternizam-se em constante pulsar, ainda que após adeuses dados. As verdadeiras amizades não morrem nem com a morte.
Também não vivemos somente para o adiante, para o agora e para depois. Somos parte de um contexto onde o passado muito diz sobre o que somos agora. E a recordação faz parte desse olhar necessário ao que valeu a pena ter vivenciado e convivido.
E não se esquece dum irmão. Um jovem irmão que tão cedo partiu do convívio terreno. E não se esquece de um bom e afetuoso amigo, enraizado que vivia num parentesco de coração.
Por isso mesmo que as recordações continuam e os lenços ainda estão molhados. E certamente assim permanecerá. Mesmo que os olhos não chorem, os prantos surgem pela simples ausência.
Os prantos surgem, ainda que não vertidos em lágrimas, pelas outras lágrimas chamadas saudades.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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