*Rangel Alves da Costa
Num tempo
onde as fala tanto em metáforas (e a maioria sem saber se é bico ou figura de
linguagem), eis aqui uma metáfora sobre o esquecimento.
Ou melhor,
sobre o que nos torna mais felizes e contentes pela presença, pela vivência, e,
por isso mesmo, sentimos tanto a necessidade de que exista sempre naquele lugar
e naquela aparência.
Como
paisagem de fundo utilizo a floração das craibeiras já depois dos setembros
sertanejos. Neste período elas começam a gestar sua floração.
Mas
poderia citar também as antigas construções, os exemplares arquitetônicos do
passado, marcos históricos e locais que nos encantam e comovem a qualquer
reencontro.
Pois bem,
as craibeiras florescem em meio a paisagens secas, feias, esturricadas. O
viajante dos desalentos sertanejos, seguindo pelas tristonhas estradas, de
repente, ainda ao longe, começa a avistar algo verdadeiramente encantador.
Espantado,
surpreso demais, nem chega a acreditar. Mas logo estará diante de uma craibeira
florida, de flores amareladas, de fino dourado, como se com sua beleza quisesse
tornar de menor importância toda a sequidão ao redor.
E
consegue. A craibeira florida é como uma santidade bela, grandiosa, imponente,
num pedestal sem fé. Não há como deixar de ficar maravilhado perante a grandeza
e suntuosidade de sua floração.
Geralmente
a pessoa para, procura refletir um pouco sobre aquela beleza, mas nem sempre
aprofunda sua meditação. Eis que, acaso refletisse com mais profundidade,
certamente sentiria ali - não só na copa adornada de floração como no tapete
amarelado que estende abaixo - a necessidade de permanência de coisas belas em
nossas vidas.
Depois de
conhecer a transformação espiritual que apenas uma craibeira florida pode
provocar na vida, certamente que a pessoa passará a dar mais importância às presenças
e ausências das coisas que tanto gosta ou tanto ama.
Sim, a
floração de cada ano tem tempo certo de existência. Surge, encanta, e vai
embora, morre, some. Assim também com a bela flor do mandacaru que brota ao
entardecer e ao amanhecer já estará definhando.
Assim
também com a vida, de curta caminhada e passagem, num tempo desconhecido e
pouco aproveitado. Perante a craibeira, a voz interior diz: Que coisa
maravilhosa!
Entristecerá
tempo depois ao já não encontrá-la mais em floração, mas apenas como uma árvore
qualquer de beira de estrada.
Também os
olhos ficam maravilhados perante as construções antigas e os casarios
coloniais. E depois se perguntam o porquê de não existirem mais.
A
craibeira não pode ser preservada pelo homem para que floresça todos os dias do
ano, pois possui ciclo próprio de existência. Mas com outras belezas pode ser
diferente.
Basta que
o homem conserve, cuide, preserve, que por muitos anos, e mais além, sempre
terá diante seu olhar. Com a vida também.
A vida
deveria ser vista como uma craibeira florida de uma só estação. E por que não
vivenciá-la em sua plenitude e grandeza a cada instante da existência?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Lindo texto!
Deveríamos todos passar mais tempo observando a grandeza da natureza, e assim, poderíamos ter mais 'insights' sobre a vida,o tempo e o que realmente importa. Compreendi que a vida é cíclica; o que temos hoje, um dia irá embora; o que tivemos ontem, um dia foi embora, e o que teremos amanhã, irá embora também.
Mas as folhas renascem. A chuva cai de novo. As ondas do mar vêm e vão. E nós?
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