*Rangel Alves da Costa
O pilão e a mão do pilão. Um tronco fincado
ao chão, uma boca aberta em comoção, por tanta luta desde a escravidão. Assim o
pilão, assim sua mão. Bate o milho, bate o feijão, bate o arroz, torna tudo em
grão, esmigalha e esfarela, faz tremer o chão. Nas distâncias longe, no
mundo-sertão, na senzala negra e no casarão, por todo lugar o batido da mão, da
mão do pilão. A mão calejada tem sossego não, quanto bate mais bate, mais pede
o pilão, pede mais força, mais determinação, para tornar em pó, para tornar em
grão, para fazer o farelo da alimentação. A poeira levanta, assoma do chão, vai
subindo aos ares, vai espalhando aflição, geme a dor da dor, geme a dor da mão,
geme o braço ao peso da mão do pilão. A vida é dura, é de sofreguidão, mas não
há saída no mundo sem perdão, ou bate o pilão ou fome desperta e faz cair ao
chão. Por isso bate a mão, a mão do pilão. Deixo o grão voar, deixe a poeira ao
clarão, pois nada vida e dor que bater o pilão. Então bate, então levante a
mão, e desça com força na boca do pilão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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