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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Palavra Solta – o pilão e a mão do pilão



*Rangel Alves da Costa


O pilão e a mão do pilão. Um tronco fincado ao chão, uma boca aberta em comoção, por tanta luta desde a escravidão. Assim o pilão, assim sua mão. Bate o milho, bate o feijão, bate o arroz, torna tudo em grão, esmigalha e esfarela, faz tremer o chão. Nas distâncias longe, no mundo-sertão, na senzala negra e no casarão, por todo lugar o batido da mão, da mão do pilão. A mão calejada tem sossego não, quanto bate mais bate, mais pede o pilão, pede mais força, mais determinação, para tornar em pó, para tornar em grão, para fazer o farelo da alimentação. A poeira levanta, assoma do chão, vai subindo aos ares, vai espalhando aflição, geme a dor da dor, geme a dor da mão, geme o braço ao peso da mão do pilão. A vida é dura, é de sofreguidão, mas não há saída no mundo sem perdão, ou bate o pilão ou fome desperta e faz cair ao chão. Por isso bate a mão, a mão do pilão. Deixo o grão voar, deixe a poeira ao clarão, pois nada vida e dor que bater o pilão. Então bate, então levante a mão, e desça com força na boca do pilão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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