*Rangel Alves da Costa
Eis aqui a história de quando Bastião me
chamou para almoçar em sua residência e eu fui com o maior prazer do mundo. Até
aí tudo bem, pois mais que normal que um amigo convide a outro para um almoço
ou jantar. O que ainda não sabem é quem é Bastião. Direi. Trata-se de um pobre
e humilde roceiro dos cafundós sertanejos, morador em casebre de cipó e barro,
com telhado de palha e porta aberta ao tempo. Não totalmente, pois um pedaço de
lona velha serve como proteção. Sua cozinha certamente não possui sortimento
algum. Quando muito um tiquinho disso e daquilo. A sua pobreza é tão extrema
que até dizem passar fome rotineiramente. Mas como uma pessoa assim poderia
convidar um conhecido, gente da cidade e de mesa sempre posta, para almoçar em
seu lar sagrado? Mas convidou, e no convite a maior satisfação do mundo. Lá
cheguei muito mais interessado no proseado e nos causos antigos de sua lavra do
que qualquer outra coisa. Cheguei por volta das dez da manhã e fiquei com ele
proseando até que o tempo passasse. E eu já sabia o que aconteceria quando a
hora do almoço chegasse. Dito e feito. Num certo horário, ele gritou pra esposa
dizendo que já estava com fome e que botasse mesa pra três. Então ela apareceu
com dois ovos fritos e uma cuia de farinha. Todo contente, então ele disse que
gostaria muito de oferecer outra coisa, mas era somente aquilo que podia dispor.
Então comi como se estivesse diante de uma mesa das mais refinadas. E depois,
depois de tudo, saí lá fora um instantinho e voltei com duas bolsas cheias de
alimentos. Seria desfeita demais ter feito isso antes do almoço. Mas ao
entregar, logo vi os olhos do casal marejando. E eu sabia o motivo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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