*Rangel Alves da Costa
Noite no mato. Sussurro, desalento e vida.
Uma catingueira, uma umburana, uma facheiro, um pé aroeira. É noite, mas as
plantas não adormecem. Zunidos, zumbidos, murmúrios. As folhagens para falar,
parecem gritar, parecem gemer. Quem avista ao longe, enxerga somente o negrume
fechado, solitário, vazio. Mas nada acontece assim. É noite no mato, no mato
parecendo adormecido, porém, mais acordado que nunca. O mandacaru faz sua
oração de braços abertos, o quipá afia seus espinhos, a urtiga se enche de seus
mistérios terrificantes. Tudo na calada da noite. Tudo dorme, mas o mato não.
As folhas namoram, namoram, extasiam, esvoaçam, caem, desabam de prazer. Ou de
morte morrida mesma. As dores, as idades, o tempo, a tudo desvanece. E tudo tem
o seu fim, também no meio do mato. Mas há vida gestando, brotando, abrindo seus
úteros em pétalas. E no alvorecer, ao primeiro clarão do dia, as flores, os
frutos, as vidas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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