*Rangel Alves da Costa
Somente
quem sai das esquinas, calçadas, bancos e muretas de praças, pode encontrar
algo muito mais proveitoso pelos arredores, indo além da cidade. Somente indo
além dos centros urbanos, ou daquilo que se tem como a nata da cidade, pode
encontrar o estranhamento maravilhoso daquilo que este pertinho, mas que
permanecia desconhecido.
Muitas
vezes, basta apenas alguns passos, virar esquinas, alcançar os portais das
estradas ou das veredas. Logo se tem outra feição da paisagem, da natureza, das
existências ou redor. Uma flor de jurubeba brilha seu avermelho amarelado bem
adiante. Que coisa mais linda! Logo vem à imaginação. Uma porta é aberta, uma
cancela range, outro sertão vai surgindo.
Verdadeiramente,
o sertão não é cidade, e sim o contexto maior que inclui os campos e os
descampados, as estradas e sendas, os casebres e as construções, as malhadas e
os currais, as portas humildes e as cozinhas toscas. Sim, pois o sertão está
mais adiante e somente é melhor avistado e sentido mais adiante. Experimentem,
pois, sair da cidade.
Experimentem
caminhar por aí, como se diz. Experimentem experimentar o prazer de encontrar
belezas em coisas tão simples e tão singelas. Experimentem dialogar com os
silêncios dos horizontes e paisagens e conversar com os habitantes desse mundo:
gente, bicho, pedra, planta. O que há além da cidade de Poço Redondo senão o
tantas vezes e maravilhoso desconhecido? Ou mesmo o já conhecido que precisa
ser revisitado.
Quando
sigo pela estrada do Poço de Cima eu logo começo a experimentar isso tudo.
Quando é tempo mais verdoso, chovido, o primeiro encantamento vem com o
encontro das belas flores de jurubeba que ladeiam a estrada. Mas que besteira,
alguém poderia dizer. Verdade que não é todo mundo que consegue sequer avistar
um poético por do sol. Não é todo mundo que consegue ter as sensações
despertadas perante uma flor de mandacaru, um ninho de pássaro, uma craibeira
florida.
Apenas uma
questão de maior ou menor sensibilidade. Mas eu me encanto com a florzinha
vermelho alaranjada da jurubeba. Basta o encontro e o olhar para que em mim vão
surgindo diversas indagações. E mais adiante, e por todo lugar, os casebres
históricos, as marcas dos tempos idos, os sopros de vozes antigas, os mesmos
passos daqueles primeiros desbravadores. O problema é que não basta apenas sair
da cidade, seguir adiante. Necessário se faz que o caminhante dê sentido a cada
passo.
O andante
precisa dialogar com cada encontro, deve ter a sensibilidade de dar importância
às pequenas e grandes coisas. Ora, tudo possui um sentido que precisa ser
decifrado. Um mandacaru não é apenas um mandacaru, uma casinha de beira de
estrada não é apenas uma casinha de beira de estrada, um curral antigo não é
apenas um curral antigo. Sempre muito mais, pois tudo com uma razão de ser e de
estar ali. Por isso mesmo que há muito que precisa ser encontrado além da
cidade.
As pessoas
de Poço Redondo precisam experimentar mais seus interiores e povoações,
precisam conhecer comunidades, pessoas humildes, vidas que talvez nunca tenham
saído de lá. Os jovens precisam conhecer suas nascentes históricas, os marcos
do seu passado. Precisam desvendar pequenas feições que permaneceram escondidas
mas que, quando conhecidas, tornam-se primorosas ao conhecimento.
Precisam
conhecer as riquezas e as histórias ribeirinhas, precisam conhecer os marcos
históricos do cangaço na região, precisam trilhar os caminhos das cachoeiras e
das quedas d’água. Precisam perguntar o por que dos nomes dos lugares, saber de
seus surgimentos, mostrar curiosidade acima de tudo. Não apenas saber, mas
também conhecer. Há uma razão para o nome Curralinho, Cruz da Donzela, Aracaju..
Por quê? Precisam saber.
Quantos em
Poço Redondo conhecem alguma coisa o Território de Maria de Rosário? Nem um por
cento. Mas precisam saber. Por que o nome Barra da Onça? Por que Queimada
Grande? Será que já existiram muitas onças no passado de Poço Redondo? Será que
os antigos habitantes faziam muitas coivaras, queimadas e limpeza de pastos
através do fogo? Coisas até simples, mas que nem todos se preocupam em juntar
seus retalhos. A verdade é que há muito a aprender no livro chamado Poço
Redondo. E igualmente com relação a todo município e a todo povoação. Por que o
nome Quilombo Serra da Guia? O que historicamente isto significa? Simples
indagações que precisam ser conhecidas por todos.
Logicamente
que o centro urbano é bom, é muito mais confortável do que estar suando e
cansando pelos aléns do lugar. Logicamente que é muito bom sentar na calçada da
Câmara de Vereadores e ficar tomando cerveja, falando de tudo e de nada e
fofocando enquanto os outros passam, mas o viver exige mais que estes meros
prazeres. Prazeres outros existem que alimentam muito mais. Basta sair da
cidade e seguir seus caminhos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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