*Rangel Alves da Costa
Aos fins
de semana sempre viajo ao sertão. E cada retorno sempre sentindo algo como se
saudade fosse sendo acumulada ainda mais. A vontade que dá é sempre permanecer
por lá.
Os ossos
do ofício sempre chamam a outros afazeres que não junto àqueles que mais amo:
caminhar, como meu pai fazia, pelas ruas singelas do meu Poço Redondo, pelas
suas estradas, pelas malhadas das casinhas de cipó e barro.
Como dito,
sinto-me sempre mais entristecido toda vez que retorno. E aqui na solidão da
capital, em meio ao desencanto da capital, ponho-me então a recordar aquilo que
deixei lá nas distâncias sertanejas daquele mundo meu.
Quando a
noite começa a surgir, exatamente nos instantes em que o sertão parece mais
belo, mais reflexivo, mais nostálgico e até melancólico, aquele retrato
ressurge com maior nitidez e melancolia.
Lá no sertão,
noutros idos, pontualmente os sinos da Matriz ecoavam seus brados como a dizer
que chegada a hora da Ave Maria, da prece, da oração, dos joelhos dobrados
perante oratórios.
Um
instante em que o candeeiro do sol já se apagou entre as nuvens e os cheiros de
cuscuz, de café, de tripa de porco e ovos, perpassam as cozinhas e vão se
espalhando pelos ares.
Um
instante docemente chamado de boca da noite. Sim, a noite vem bela boca aberta
dos horizontes, das paisagens, da natureza. O sol vai embora, a lua desponta, a
mataria apenas sussurra, as folhagens dançam ao sabor dos sopros dos ventos e
ventanias.
Da cor
vermelho afogueada da boca da noite, a cidade vai sendo tingida por outras
cores. As luzes lançam seus amarelos, o negrume se estende e vai alargando seu
manto noturno.
A lua
desce, passeia, toma conta de tudo. Mais tarde as pessoas estarão reunidas em
proseados, as vizinhas em suas calçadas, a juventude legislando entre copos na
calçada da vereança municipal, os enamorados procurando seus destinos do
coração.
Até as
portas e janelas irem se fechando no chamado dos sonos e sonhos. Tudo assim em
Poço Redondo, no meu sertão amado. E eu aqui, apenas eu e a solidão.
Mas para
lá retornarei e novamente sentirei todos os prazeres e sensações da boca da
noite. Ouvirei os sinos bradando, sentirei os cafés cheirando pelas cozinhas,
ouvirei as preces junto aos velhos oratórios. Abraçarei a chegada da lua e com
ela dormirei de braços dados.
Mesmo que
nada assim aconteça, certamente acontecerá. Na mente, na vontade, no
pensamento.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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