*Rangel Alves da Costa
Fico imaginando e entristecido reconheço a
desvalia. Eu aqui reclamando disso e daquilo, e ali apenas o silêncio da dor e
da agonia. Eu aqui achando que poderia ter muito mais, e ali o nada ter e
sequer sem esperança de acontecer. E tem gente que se nega a comer qualquer
coisa. Tem de ser de cardápio, de menu, de nome estrangeiro. E tem gente que
reclama da comida fria, da água pouco gelada, do refrigerante sem gás, da torta
que já está acabando. E tem gente que enfurece com a roupa envelhecida, com a
roupa sem botão, com a roupa que deixou de cair bem sobre o corpo. Tem muita
gente assim. E lá, lá dentro do barraco, do casebre, daquilo que se tem por
moradia? Alguém de fora já pensou no pão que não tem lá dentro? Alguém urbano
já pensou na panela vazia, na barriga vazia, nas noites vazias de garfo e
colher? Alguém joga fora o resto do almoço. Só janta se for comida nova. E logo
naquela noite que não houve prato, não houve pão, não mesa nem sobremesa. E
logo naquela noite que só teve lágrimas, que só teve dor, que só teve a silenciosa
desilusão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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