*Rangel Alves da Costa
A saudade
surge pela distância. Sente-se saudade pela ausência, pelo distanciamento ou
pela perda. É a separação que faz brotar o sentimento de querer estar junto,
reencontrar, novamente conviver. Na saudade, geralmente os sentimentos redobram
em desejos. O amor é acrescido a outros amores não amados quando juntos estiveram.
A amizade se torna muito mais reconhecida. A perda se torna muito mais sofrida
e dolorosa. Contudo, há um tipo de saudade que se tem até como algo raro de
acontecer, vez que mais aproximada a um desejo de estar junto ou novamente ao
lado, mas que acaba se tornando saudade mesmo. Estranho, mas é possível sentir
saudade de alguém que está por perto, talvez alguns passos ou algumas ruas. E a
saudade de alguém por perto é quase tão dolorosa quanto a saudade pela perda de
alguém querido, pois comumente se trata de perda também.
Geralmente
provocada por uma relação terminada, desamada, distanciada ou por que alguém
achou melhor dar um tempinho depois de alimentar uma paixão que parecia
duradoura, a verdade é que a saudade dói. E dói mais ainda quando a saudade é
de alguém por perto. Que coisa mais terrível, mais destruidora, mais
tempestuosa! Muitas vezes, o simples ato de avistar a pessoa motiva ainda mais
a saudade, que sempre chega como cruel punhalada. A pessoa amada por perto e
nada mais ter ou sentir que a saudade de instantes inesquecíveis, de beijos e
abraços inebriantes, de instantes colados um no corpo do outro.
E ao
longe, apenas na réstia de um entristecido olhar, o imenso desejo de correr até
lá e ser recebido com sorrisos e palavras boas. E ficar imaginando aquela boca
que beijou, aquele corpo que abraçou, as promessas sussurrantes e os delírios
dos apaixonados. E na mente surgir um filme daqueles instantes na beira das
águas, das viagens escondidas, dos encontros camuflados por medos das imediatas
descobertas. Na mente, tudo isso surge como furacão, como ventania, como
vendaval. E a inevitável pergunta: por quê? As respostas são igualmente
dolorosas. O que veio fácil e partiu não será tão fácil assim retornar. Ou será
mais fácil ainda, tudo na dependência do destino e o seu desejo de acontecer.
Ou não.
De vez em
quando eu sinto esse tipo de saudade. Sei que está ali, sei que está pertinho,
sei que é muito fácil chegar até lá, mas a separação sempre impede. De repente,
saiu pela porta e a saudade já bateu. Vai virando a rua e a saudade aumentando.
O pensamento vai rebuscando instantes, momentos, e então tudo vai causando
aflição. Estava aqui e já não está mais. Por quê? Brigou, discutiu, enraiveceu,
deu meia volta e foi embora. Ao menos por instantes, tudo terminado. Ou mesmo
mais demoradamente, e tudo terminado. Bem poderia voltar e não voltou. E por isso
mesmo bate uma saudade danada, imensa, e de alguém por perto. Talvez esticando
a mão pudesse alcança-la, talvez dando alguns passos pudesse estar perante sua
presença. Mas não. Apenas a saudade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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