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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 4 de maio de 2019

SAUDADE DE ALGUÉM POR PERTO



*Rangel Alves da Costa


A saudade surge pela distância. Sente-se saudade pela ausência, pelo distanciamento ou pela perda. É a separação que faz brotar o sentimento de querer estar junto, reencontrar, novamente conviver. Na saudade, geralmente os sentimentos redobram em desejos. O amor é acrescido a outros amores não amados quando juntos estiveram. A amizade se torna muito mais reconhecida. A perda se torna muito mais sofrida e dolorosa. Contudo, há um tipo de saudade que se tem até como algo raro de acontecer, vez que mais aproximada a um desejo de estar junto ou novamente ao lado, mas que acaba se tornando saudade mesmo. Estranho, mas é possível sentir saudade de alguém que está por perto, talvez alguns passos ou algumas ruas. E a saudade de alguém por perto é quase tão dolorosa quanto a saudade pela perda de alguém querido, pois comumente se trata de perda também.
Geralmente provocada por uma relação terminada, desamada, distanciada ou por que alguém achou melhor dar um tempinho depois de alimentar uma paixão que parecia duradoura, a verdade é que a saudade dói. E dói mais ainda quando a saudade é de alguém por perto. Que coisa mais terrível, mais destruidora, mais tempestuosa! Muitas vezes, o simples ato de avistar a pessoa motiva ainda mais a saudade, que sempre chega como cruel punhalada. A pessoa amada por perto e nada mais ter ou sentir que a saudade de instantes inesquecíveis, de beijos e abraços inebriantes, de instantes colados um no corpo do outro.
E ao longe, apenas na réstia de um entristecido olhar, o imenso desejo de correr até lá e ser recebido com sorrisos e palavras boas. E ficar imaginando aquela boca que beijou, aquele corpo que abraçou, as promessas sussurrantes e os delírios dos apaixonados. E na mente surgir um filme daqueles instantes na beira das águas, das viagens escondidas, dos encontros camuflados por medos das imediatas descobertas. Na mente, tudo isso surge como furacão, como ventania, como vendaval. E a inevitável pergunta: por quê? As respostas são igualmente dolorosas. O que veio fácil e partiu não será tão fácil assim retornar. Ou será mais fácil ainda, tudo na dependência do destino e o seu desejo de acontecer. Ou não.
De vez em quando eu sinto esse tipo de saudade. Sei que está ali, sei que está pertinho, sei que é muito fácil chegar até lá, mas a separação sempre impede. De repente, saiu pela porta e a saudade já bateu. Vai virando a rua e a saudade aumentando. O pensamento vai rebuscando instantes, momentos, e então tudo vai causando aflição. Estava aqui e já não está mais. Por quê? Brigou, discutiu, enraiveceu, deu meia volta e foi embora. Ao menos por instantes, tudo terminado. Ou mesmo mais demoradamente, e tudo terminado. Bem poderia voltar e não voltou. E por isso mesmo bate uma saudade danada, imensa, e de alguém por perto. Talvez esticando a mão pudesse alcança-la, talvez dando alguns passos pudesse estar perante sua presença. Mas não. Apenas a saudade.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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