*Rangel Alves da Costa
Muita coisa boa sumiu do sertão, sumiu...
Muita fruta boa sumiu do sertão, sumiu... Retratista sumiu, cordel pendurado em
barbante quase não existe mais. Sorvete de gelo raspado sumiu, vendedor de óleo
de peixe boi quase não existe mais. Araticum madurinho não existe mais, também
araçá desapareceu. Sumiu carro-de-bois na estrada, sumiu jegue servindo de
montaria. Agora só se usa motocicleta e tudo sumiu. Rolinha fogo-pagô, onça
pintada e veado, seriema e nambu, porco-do-mato sumiu. De vez em quando a chuva
some, desaparece, parece não existir mais. Sumiu vestido de renda, sumiu a menina
faceira. Sumiu a inocência matuta, sumiu o beijo roubado em janela. Sumiu o
seresteiro da lua, sumiu o poeta apaixonado, o romantismo sumiu. Sumiu o café
torrado em pilão, sumiu o cuscuz de milho ralado. Sumiu o sonho da felicidade,
até a felicidade sumiu. Não há mais paz nem sossego, do sertão tudo sumiu.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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