*Rangel Alves da Costa
Quem
avista no dia a dia a vaqueirama de Poço Redondo, talvez jamais tenha imaginado
a sua importância na continuidade da cultura local e sertaneja. Quem convive
com o mundo vaqueiro, com o bicho do mato, com o cavalo ligeiro e a pega de boi
valente, certamente não imagina a dimensão deste ofício cheirando a couro e a
suor. Quem sai das fazendas pelos arredores da cidade e cavalga em lindo
cortejo pelas ruas da cidade, em si mesmo não sabe a beleza e a importância
deste simples ato de cavalgar em procissão ecoada pelo aboio e pela toada.
Quem cuida
de seu cavalo em amizade profunda e nos dias de festa de gado o adorna com
cuidado e carinho, e depois de recobrir-se de couros segue em direção ao Parque
Santa Fé, ao Juazeiro, ao Padre Cícero ou outros campos de vaquejada e
pega-de-boi, sequer imagina o quanto está reescrevendo as valorosas histórias
dos antigos e destemidos vaqueiros. Quem avista um menino, um rapazote ou um
jovem, desfilando garbosamente com seu alazão, nem imagina quantas portas da
história, da cultura e da tradição, está sendo aberta em cada trotar pelas ruas
em direção aos campos.
Quem acha
que vaqueiro é um qualquer não sabe de nada. Quem acha que o jovem vaqueiro tem
mais o que fazer a se preocupar com vida de cavalo e boi, igualmente não sabe
de absolutamente nada. Quem acha que vaquejada é esporte pra quem não tem o que
fazer, inegavelmente não sabe o que diz. Quem acha que cavalgada é apenas um
monte de gente que passa sobre animais, também não sabe o que diz. Quem acha
que o aboio e a toada são cantigas apenas de mato, haverá de pensar diferente.
Quem acha que o grande Parque União Santa Fé é apenas um local de aboios,
toadas, bebidas e corridas de gado, também não sabe o que diz.
Muita
gente realmente sequer sabe da importância do vaqueiro, da vaquejada, da
pega-de-boi, do aboio, da toada. Mas é preciso saber, é preciso conhecer. Toda
vez que passa um vaqueiro, uma reverência há de ser dada. Não se trata apenas
do animal, do homem montado, do terno de couro, de tudo o mais que o adorna no
seu ofício, e sim do retrato cultural, histórico e tradicional, do próprio
sertão. Sertão é vaqueiro, é vaquejada, é aboio, é toada. O oficio do vaqueiro
é tão fundamental na vida sertaneja que não haveria sequer sertão sem o trotar
do cavalo e o destemor do homem sobre o animal.
E como
hoje os livros reconhecem, a vaquejada é esporte e arte. Enquanto tal faz bem
ao espírito, à alma, ao desenvolvimento pessoal. Além disso, retrata o que de
mais belo há no mundo sertanejo: o vaqueiro no seu exercício de vida. Sim, o
vaqueiro no seu exercício de viver, pois há um amor tão grande do sertanejo por
seu ofício de gado que faz suporta os lanhos na pele, as pontas de espinhos, o
couro vencido pela catingueira afoita. Mesmo que caia, que sangre, que fique
todo alquebrado, não demora muito e ele já novamente montando no seu alazão.
Um amor
aliado à valentia, ao destemor, ao sentido sertanejo da abnegação. E que
continuem assim, bravos vaqueiros de Poço Redondo. Do mais jovem ao mais velho,
que todos saibam que o sertão precisa que continuem correndo gado, vencendo os
espinhos, aboiando, entoando versos vaqueiros, sendo imensos naquilo que tão
bem sabem fazer. E em homenagem aos vaqueiros, um dia eu escrevi uns versos que
dizem assim:
Vaqueiros da Santa
Fé
Terno de festa é
de couro
roupa de vaqueiro
é gibão
o carro bonito é o
cavalo
seu orgulho é o
alazão
a mocinha
enfeitada
de bota e chapéu
de couro
vai aplaudir seu
vaqueiro
levando brinco de
ouro
a vaqueirama em
festa
do bicho não larga
o pé
vai selando seu
ligeiro
pra correr na
Santa Fé
solta o aboio seu
moço
a mata se abre em
flor
o boi valente tá
solto
no vaqueiro o
destemor
no Parque da Santa
Fé
o chão treme
assustado
no passo da
vaqueirama
na derrubada do
gado
Poço Redondo
festeja
a cultura e a
tradição
dos vaqueiros de
sua terra
na pega-de-boi
devoção
celebrando um
passado
de vaqueiros
renomados
homens de cavalo e
gibão
para as estrelas
levados
mas deixaram entre
os seus
a herança da
vaqueirama
um amor que se
renova
no esporte que
mais ama
sobe ao cavalo
inteiro
e volta todo
lanhado
no corpo sinais da
luta
mas de orgulho
dobrado
parabéns ao nosso
herói
que não teme o que
vier
orgulho desse
sertão
Vaqueiros da Santa
Fé.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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