*Rangel Alves da Costa
Totinha é
uma frô, juro pru Deus. Nunca vi muié mai bonita, prefumosa, de deixá o cabra
doidim. E o cabra doidim sou eu. Inté que eu vendia uma vaquinha pra me ajuntá
com Totinha. Quem sabe um cabrito tomem. Mai o probema é que Totinha sorriu pa ieu
e adespoi sumiu de vista, sem mai sorriso esperançoso. Mai oiô bonito pa ieu,
sorriu bonito pa ieu, inté com sibiteza no oiá. Mai será que Totinha vai querer
morar no mato, entrá em casa de barro, fazê cumida em fogão, dá mio a galinha e
ouvi musga em raidim de pia. Acho difici, munto difici, inté pruque as muié de
hoje num gosta munto de roça não, num gosta munto de se afastá da zanzanice da
cidade não. Bonita cuma ela ié, toda jeitosa cuma ela ié, num sei não. Só se eu
amarrasse a protera, passasse a tranca na prota, e me arribasse pa cidade
tomem. Mai o que seria do meu bichim, da minha vaquinha, do meu guiné, do meu
cabrito? Sei não, sei não. Totinha parece uma frô, tem as anca caridosa demai,
inté parece muié de novela. Mai num posso trancá a protera. E cuma vou fazê a
feira, cuma vou sustenté Totinha e os seus luxamento? E cuma vou vivê sem o chero
do bicho e sem o relinchá do caralo? Quero essa vida não, seu moço, quero não.
Que Totinha me adescupe, mai ou ela vai pro mato cum ieu ou vorto pro mato
sozim. Tomem num sô pa Totinha não. Sô da peda e do calango, do brasero e das
cinza, da jurubeba e do preá. E muié da cidade num gosta disso não. Entonce
Totinha, inté. Meu caminho é de chão. Gosto de asfarto não.
Mai
pensano bem, inté que Totinha esquentava eu nas noite de friação. Sim, Totinha
bem que podia isquentá ieu nas noite de friação. É tom ruim drumi na friação
sem ter uma costelinha pra isquentá. Mai o probema é Totinha, é ieu não. Inté
que sei pruque Totinha é assim, inté já dixe. Totinha é das moda, das sibiteza,
dos afloramento, e ieu sou apena um moço da roça. Será que Totinha ia querer
lavanda, pano de chita, chinelo de dedo? Acho difici. Mai difici aina Totinha
se adispô a levantar cedim, com o galo aina cantando, pa fazer cuscuiz e torrar
tripa de porco. Munto difici tomem que ela quera debuiá mio, catar feijão,
alimpar pé de melancia, moiá rosera do quinta. Mai a dana é bonita demai, mai
parece uma frô cherosa. Sei que num dá certo eu vendê dois berro, me ajuntá com
Totinha e ela fica na rua e eu aqui. E ela vai querê uma casa bonita, mobiada,
cum tudo trincano, sei disso. Tomem os luxo de muié luxenta. Eu de ropa veia,
de carça de pano grosso, camisa de trabaio, e ela toda nos trinque. Ela num vai
querê ficar pertim deu de jeito ninhum. Cuma que eu vou chamá de muié minha uma
muié assim? Tá difici demais. A num sê que ieu endoide de veiz. Mai quano penso
naquela frô tom bonita deitada na cama entonce me reviro todim, fico em tempo
de endoidar mermo. Achava que frô de mandacaru era a coisa mai bonita do mundo.
Achava que a prantação adespois da chuva era a coisa mais bonita do mundo. Mai
me enganei de tudim adespois que cunheci Totinha. Ontem mermo ela mandou um
biete pra eu e pedino dois conto de réis. Dixe que ia dar um bejo por um conto
e uma coisa mió ainda pelo outo conto. Mai o que será? Mai se eu der vai fazer
munta farta na comida de minha vaquinha. Num sei se dou ou num dou. Acho que...
Pensano
bem, eu vou dar só um conto a Totinha. E num vou querer nada dela não. Ela já
me deu. Deu essa coisa que o povo chama de vontade de amar, de namorar, sei
lá... Eu num sabia nem o que era isso. E Totinha me deu.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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