*Rangel Alves da Costa
Um dia, acordei resolvido a ser passarinho.
Abri a janela do quarto como se abre a porta de uma gaiola. A manhã adiante era
como a liberdade na natureza. Os primeiros clarões do sol eram como nuvens me
chamando ao voo. Sim - eu disse a mim mesmo -, eis que chega o momento de sair
do chão, eis que chega o instante de deixar de pisar somente em pontas de
pedras e punhais de espinhos. E me confessei ainda mais: nunca sobe aos espaços
da realização, nunca alcança a montanha do saber, nunca encontra os verdadeiros
ares da liberdade de pensar por si mesmo, aquele que se acostuma como se
rastejando estivesse. Hoje eu sou passarinho. Repeti e repeti. Nada mais me
impede de ter minhas próprias asas, de avistar adiante meus horizontes e
suavemente planar até onde eu desejar. Não preciso seguir em revoada, pois sei
muito bem o que desejo e onde quero chegar. E então, não sei bem se na nudez ou
semivestido, alcei voo através da janela. E voei tão alto e cada vez mais alto,
que nunca mais quis retornar ao reles do chão. Certamente que me encontram por
aí, certamente que me avistam caminhando pelas ruas, curvas e estradas, mas não
imaginam quanto eu continuo voando. E só sou o que sou por que nunca tive medo
de voar, de sonhar, de pensar grande. Nas alturas, nas alturas!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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