*Rangel Alves da Costa
Não. Assim
não. Não é por que a vida é curta, passageira e inesperada, cheia de surpresas
aterradoras, que devemos vivê-la pelo lado da ilusão, da falsa felicidade, do
que é forjado aos sentimentos.
Não é por
que ninguém sabe se amanhã estará bem que o hoje deve ser transformado em
festim, em exagerada curtição, em entrega ao álcool e outras ilusórias viagens.
Não é por que o amanhã é uma caixinha de surpresas que todos os experimentos do
mundo devem ser chamados agora.
Não é por
que a morte poderá chegar a qualquer momento que a todo instante há de se viver
pela pecaminosidade, depravação e desonra pessoal. Não é por que a juventude
chama à festa, à bebida, aos exageros, que a pessoa deva ultrapassar seus
limites. Não é por que se deseja mostrar o ímpeto esfuziante da idade que se
tenha de mostrar a nudez moral.
Não é por
que alguém sempre faz assim que se tenha de seguir o rebanho. O mundo pode
acabar amanhã para uns, mas o nome permanece segundo foi semeado. E se o mundo
não acabar amanhã, como o mal semeado agora vai sendo colhido? Quanto vale no
futuro uma desonra já semeada na flor da idade? Qual o respeito de manhã numa
pessoa que não se respeita agora? Será que mais tarde, acaso constitua família
e tenha filhos, terá coragem de dizer o que de mais impuro e pecaminoso fez no
passado?
Certamente
não dirá, mas o passado é livro que continua sendo aberto, e quanto mais erros
houver mais suas folhas serão avistadas e relembradas. Que bebam, que curtam,
que vivam a idade, que cantem, que dancem, que namorem, que fiquem. Mas lembrem
de que nada termina agora, nada é somente para o hoje. O amanhã é tudo.
Para o bem
ou para o mal, o amanhã será sol que sempre vai nascer. E que tal neste amanhã
não temer ou se envergonhar de olhar para o passado? Não há pretensão alguma
que o jovem se torne casto, fechado em redoma ou que deixe passar sua idade sem
buscar as alegrias da vida. Nada disso.
O mundo
moderno acabou destruindo a maioria dos hábitos de vida, mas no passado também
havia juventude, mocidade, idades viva flor. E a maioria das pessoas sobreviveu
sem que tivesse que se entregar aos mundanismos e às depravações. Talvez seja
somente uma questão de consciência, de escolha própria. Mas com tantas alternativas,
que tal optar por aquelas que permitam o encontro com as alegrias que não sejam
forjadas pelos vícios, fugas ou exageros?
Mas nem
tudo está perdido, eis a verdade. Ao invés de esquinas e baladas, muitos jovens
optam pela religião, pela igreja. Ao invés de estarem requebrando ao som de
paredões, alguns jovens preferem a prática de ações sociais, convivendo e
dialogando com parcela sofrida da população. Ao invés de mesas de barzinhos ou
farras de finais de semana (ou todo dia), alguns jovens preferem seus quartos,
suas calçadas, tendo ao lado um afazer comum ou um bom livro.
Por isso
que nem tudo está perdido. E o que acostumou na obscuridade ou no fazer perverso
a si mesmo, sempre poderá retornar ao lado melhor da vida: realmente viver, sem
mentiras nem ilusões!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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