*Rangel Alves da Costa
Uma calcinha no varal é pura poesia. Ao menos
assim aos olhos da meninada que ia percorrendo quintais em busca de avistar
calcinhas dependuradas. Lembro-me como se fosse hoje, Titoco nutria verdadeira
paixão por calcinha ainda molhada. Escondia-se no cercado só para esperar
quando Joaninha chegava com a calcinha à mão e a prendia no varal. Um delírio.
Já Bitinho gostava mesmo era de avistar calcinha vermelha. Toda vez que via
ficava da mesma cor da calcinha, todo febril e em tempo de endoidar. Eu mesmo
já vi passarinho levando calcinha no bico. Mas de repente as calcinhas
despareceram. Ou melhor, deixaram de ser estendidas no varal. E não por causa
da meninada. Pelo que se sabe, as mocinhas simplesmente deixaram de usar
calcinhas. Então a molecada danava-se a jogar bola de gude bem diante de onde
elas estivessem sentadas. Abaixavam e ao invés de procurar a bola, logo
procuravam avistar outra coisa. Eu já vi meninote desmaiando por causa disso.
Não sei bem o que avistou para sentir tanta comoção, mas de repente dobrou-se
ao chão todo arrepiado.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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