Acerto de contas
Vou entrar pela sua porta
caminhar pelo seu tapete
com os pés ainda descalços
tomados de espinhos e dor
porque são minhas as chaves
porque comprei tanto luxo
porque fiz do lar um castelo
para a princesa me esperar
qualquer dia retornar
como enfim voltei agora
com o corpo esfacelado
cheio de fome e sede
da luta mais que cansado
se nega me oferecer dessa taça
me joga na mão uma caneca vazia
olha pra porta como despedida
sem me apontar uma cadeira
sem colocar um prato à mesa
e diz apenas que não devia voltar
que voltei tarde para encontrar
sua nova vida no seu novo lar
com outra pessoa que diz amar
e que faça o favor de retornar
com a certeza de não mais voltar
atendo seu pedido minha senhora
pelo seu desejo retorno agora
mas levo nas costas o lar construído
com a honra e o peito erguido
deixando contigo o que merecer
o abandono para sobreviver
com a justa esmola de um tostão
para comprar um alento na solidão.
Rangel Alves da Costa
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