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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 17 de dezembro de 2011

VIVER COM SIMPLICIDADE (E PAZ) (Crônica)

VIVER COM SIMPLICIDADE (E PAZ)

                               Rangel Alves da Costa*


Talvez muitos se contentem em dizer que a vida só se perfaz com muito dinheiro, esbanjando saúde, não lhe faltando nada do que deseje fazer ou simplesmente ser e ter o máximo enquanto viver.
Mera questão de gosto, de achar que o prazer da vida se conquista com pedras marcadas. Brilhantes, diamantes, riquezas nos cofres do mundo, são coisas que apenas estão, mas não serão. Não serão jamais iguais ao contentamento por viver humildemente em plena felicidade.
 Muitas vezes as ilusões confundem demais, fazem surgir o poder eterno quando tudo é exemplarmente passageiro. E tudo vem no destino, no exemplo que mais tarde o Rei de Midas terá de suportar, na suntuosidade que é levada pela ventania que chega imperceptivelmente mansinha.
É preciso lembrar, pois, que as riquezas materiais, a perfeição corporal e o luzir nos atos cotidianos não possuem a mesma perenidade que a singeleza de um espírito que se satisfaz até com coisas pequeninas e sempre recolhidas ao momento certo. Ora, se a felicidade não se compra, a perfeição não está na forma nem o poder se forja eternamente, então que se busque o caminho da realidade prática.
E o que seria a realidade prática da vida senão moldar os objetivos do homem perante as suas necessidades e a sua capacidade de realizar? É prática essencial que a riqueza do homem seja na medida daquilo que pode abraçar, porém não como medida, e sim com a certeza do alcance do seu abraço.
Ora, alguém poderia dizer que um casebre com quase nenhum mobiliário, contando apenas com uma mesa e alguns tamboretes se constitui numa pobreza demais para se chamar de vida digna. Esquecem, contudo, que a pessoa ou a família daquela casa planeja a vida segundo as suas possibilidades. Gostaria de ter muito mais, mas nunca como fartura sem utilidade prática.
E o que é, muitas vezes, a utilidade prática para essa gente tão pobre e tão humilde? É simplesmente o ter para sobreviver, o garantir a sobrevivência, a certeza que a fome estará afastada, o medo estará distante, a barriga não ficará vazia por muito tempo. Daí que os seus brilhantes e diamantes se espalham na velha tábua da mesa, muitas vezes de plástico, e tem o nome de qualquer coisa chamada comida.
É impossível para o homem conceituar a felicidade, senão senti-la. Todos sabem o que é estar infeliz, porém nunca conseguiu expressar o alcance da real felicidade. Será feliz - na mesma medida da felicidade do que se encanta vendo os filhos pequeninos de barriga cheia – aquele que simplesmente enxerga o brilho de suas joias, os infinitos números na sua conta bancária, o poder imenso que não compra um sorriso?
Ao falar da felicidade, dentre outras coisas a Bíblia diz: “Em plena abundância, sentirá escassez; todos os golpes da infelicidade caem sobre ele” (Jó 20,22); Que felicidade posso eu ter ainda? Estou nas trevas, sem poder ver a luz do céu” (Tobias 5,12);Dizem muitos: Quem nos fará ver a felicidade? Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz de vossa face” (Salmos 4,7); “com vossa mão livrai-me dos homens, desses cuja única felicidade está nesta vida, que têm o ventre repleto de bens, cujos filhos vivem na abundância e deixam ainda aos seus filhos o que lhes sobra” (Salmos 16,14).
Não restam dúvidas de que o afastamento da religiosidade daqueles que só pensam em riqueza, também os impede de encontrarem a felicidade nas coisas simples e singelas. Contrariamente vivem os humildes. Estes se apegam de tal forma na fé que sempre conseguirão o necessário para sobreviver que o mínimo conquistado já se torna em devoção religiosa absoluta. Então surge o Deus dos pobres como verdadeiro pai e protetor.
Por tudo isso é que dentro daquele casebre, ou mesmo naquele semblante que está do lado de fora mirando a alva da manhã, há uma felicidade infinita. E tudo redobrará esse sentimento, pois sente que vem a chuva, sabe que vai plantar, surge a certeza do pão. E que felicidade essa de viver singela e esperançosamente feliz!



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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