ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: UM SINGELO PRESENTE
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que nas distâncias vivia um menino muito, mas muito mesmo, apaixonado por uma bela flor do sol. Ele a via como orvalho da madrugada, mas era flor do sol mesmo.
E flor ensolarada pela boniteza iluminada que tinha. Nos seus quinze anos, parecia estática no tempo, sem rejuvenescer nem envelhecer. Continuava sempre como uma doce flor, meiga e inocentemente linda. Por essa menina é que o menino era perdidamente apaixonado. E sábio esse coração juvenil.
Mas quando ele soube que o aniversário dela se aproximava, então começou a se remexer por dentro. Ainda que não tivesse coragem de entregar em suas mãos, não poderia deixar de arrumar um jeito para que ela pudesse receber sua lembrancinha. Quem sabe se com a singela recordação sentimentos outros não seriam despertados nela?
O martírio maior era saber com o que presentear sua doce paixão. E pensava e pensava e nada de concluir sobre qualquer coisa que tivesse a sua feição, fosse ao mesmo tempo uma coisinha simples e de grande significação. Sabia que o presente vale mais pela escolha certa do que pelo valor.
Então, meio sem jeito, perguntou à sua avó qual o melhor presente para dar a uma amiguinha que estava prestes a aniversariar. E a velha senhora, matreira, já sabendo o que tinha coisa por trás dessa conversa do neto, deu um leve sorriso e disse que desse o seu coração. Mas ele não entendeu nada.
Em seguida, dessa vez menos tímido porque conversa de homem pra homem, procurou o avô e fez a mesma pergunta. E o velho sentiu uma pontada no coração de saudade e achou encantador que o neto viesse lhe atiçar tantas relembranças de um dia. E chamando-o para um abraço disse que desse a palavra. Mas ele não entendeu nada.
Ficou ainda mais duvidoso diante das duas respostas recebidas. Ao invés de ajudar acabaram complicando, pois a avó havia dito que desse o coração e o avô falou que desse a palavra. E sabia que mesmo seu pai e sua mãe não resolveriam o problema, mas ainda assim procurou-os.
Sua mãe, pigarreando, meio olhando pelos cantos porque já sabia do que realmente se tratava, respondeu-lhe apenas que desse a presença. Complicou tudo de vez, pensou. E complicaria ainda mais porque ouviu de seu pai que desse de presente o sorriso.
Mas ora, meu Deus do céu, quero dar uma lembrancinha à menina que amo e mandam que eu ofereça o coração, a palavra, a presença e o sorriso? Ao ponto de enlouquecer porque ainda não havia resolvido nada, ficou pensando seguidamente sobre as besteiras que havia ouvido.
Então, no dia do aniversário resolveu dar um basta nessa estória toda e decidiu escolher o presente por conta própria. E foi no campo colher um buquê de flores. E caminhando de volta, com o buquê na mão, foi lhe nascendo uma ideia muito interessante e que tinha tudo a ver com as respostas de seus parentes.
Deu um grandioso sorriso, se encheu de esperança, porque já sabia o que fazer. Com amor no coração, uma palavra na boca, na presença dela daria um sorriso e entregaria o seu singelo presente. E o amor, esse tão grande amor envolto em tudo.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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