Depois da ceia
Esse ano
não tivemos
amoras da Pérsia
amêndoas árabes
azeitonas italianas
nem vitelo
nem vodka russa
os tempos mudaram
os tempos são outros
parecendo escassez
sem a grande mesa
imensa e farta
de verniz e brilho
de cheiro e sabor
de velas e taças
apenas o pão
apenas o vinho
apenas dois copos
apenas a chama
da noite enluarada
e apenas nós dois
do que restou
e te dou um presente
um doce beijo
um abraço apertado
uma confissão
e depois
depois de tudo
a compreensão
que a fartura da ceia
é a oportunidade
para se compreender
os limites da vida
e na falta das ilusões
sobre a mesa
sobrar mais tempo
para olhar calmamente
bem no fundo
dos teus olhos
e dizer te amo
e dizer te amo
e dizer do quanto
ainda te amo...
Rangel Alves da Costa
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