NAS ENTRANHAS DA FAMÍLIA
Rangel Alves da Costa*
Problemática, incompreensível demais, verdade é que não gosto de me ater com questões familiares, principalmente da que faço parte como linhagem e das outras que repousam sobre a mesma feição e moldura. Alguém já disse que basta um retrato pendurado na parede.
Contudo, num instante de pensamento hereditário, buscando nos ancestrais algumas explicações para o presente, comecei a fazer certas observações interessantes, para depois concluir que as mudanças ocorridas no seio familiar podem ser melhor compreendidas se a própria família for vista como a formação da terra, como camadas de sedimentos que foram se acumulando até chegar às características atuais.
Creio que esteja com a razão; ou não. Contudo, as ciências ensinam que a terra é formada por camadas, sendo quatro para uns (crosta terrestre ou litosfera, manto, camada intermediária e núcleo) e três para outros (crosta, manto e núcleo), contando ainda com subdivisões (litosfera, astenosfera e mesosfera). Mas o que isto tem a ver com família?
Calma, pois chegaremos lá. Voltando aos aspectos geográficos da estrutura da terra, tem-se que a crosta é a parte mais superficial, a primeira camada, é onde a vida se desenvolve; o manto é a segunda camada da terra, essencialmente viscosa, formada por minerais ricos em silício, ferro e magnésio; já o núcleo é a camada mais interna, mais profunda do planeta, bem como a mais enraizada, contendo basicamente elementos metálicos como ferro, níquel e silício.
Agora respondam uma coisa: Será que a crosta, o manto, a camada intermediária e o núcleo lembram alguma coisa da estrutura familiar, das estruturas que se sobrepõem no seu seio, das gerações mais antigas às presentes, para formar um todo? Será que compensa comparar, por exemplo, o núcleo, a camada mais interior, com a primitiva ascendência familiar, aquela primeira, de onde tudo se originou?
Ora, igualmente a terra que é formada por estruturas mais recentes e vai se aprofundando até chegar ao núcleo originário, a família também é composta de ascendência que, adentrando-se às gerações passadas, vai levar aos primeiros núcleos onde as raízes começaram a ser geradas.
Desse modo, todos que fazem parte do momento atual da família, que são os pais e filhos, seriam aqueles indivíduos na crosta, na parte de cima. Lembrando que na crosta da terra está aquilo que vemos, que nos deparamos, como a as plantas e as rochas, do mesmo modo na crosta familiar estão aquelas pessoas que dão feição atual à linhagem.
Os pais poderiam ser vistos como as plantas e os seus membros, as pedras que despontam por todos os lugares, os cumes e os momentos, os declives de onde se deitam os rios, mares e oceanos. Por sua vez, os filhos e netos seriam os galhos, as folhagens, os acúmulos que se formam pelas vastidões da terra.
Nesse passo, nossos avôs e bisavôs seriam parte da segunda camada, da segunda estrutura familiar. Essa camada, também conhecida como manto, é parte que está logo abaixo da crosta e que a sustenta. Os pais dos nossos pais e os pais destes seriam o manto de onde se originou toda a geração futura e que, por terem características muito próprias e acentuadamente marcantes, dizem do muito que somos hoje, nossos aspectos genéticos, nossa força hereditária.
O núcleo, que é a parte mais profunda e de maior intensidade, se constitui na própria família em si, com seus fundamentos genéticos, sua história de formação e desenvolvimento, as características que foram sendo adquiridas ao longo das gerações. Nessa base que forma o núcleo familiar está também a raça, o sangue, as crenças, as predisposições genéticas, os sobrenomes familiares. Uma visão maior dessa estrutura levaria aos bisavôs de nossos tataravôs e assim por diante, sempre em descendência.
Pensar numa camada intermediária seria atinar para a existência e influência de outras pessoas que se aproximam do núcleo familiar, mas formando outros núcleos com raízes próprias. Seriam os parentes mais distantes, aquelas pessoas que sabemos que guardam vestígios do nosso sangue, mas não são consideradas dentro do eixo parental principal. São primos em terceiro ou quarto graus, por exemplo, que são tidos como da família, porém muito mais de outra.
Contudo, a terra é subdividida de cima para baixo; enquanto a família repousa acima da terra e se espalha horizontalmente em todas as direções. E quando desce um pouco, às vezes é para subir aos céus.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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