Fartura
O sabor é do tempo
vem da natureza
mas o gosto é meu
da minha sede
da minha fome
do meu gostar
da vontade que dá
de comer a terra
morder a folhagem
beber a lama
engolir a serra
beliscar a montanha
brindar o rio
virar a taça da lua
mexer de garfo o ar
da tarde me lambuzar
e se mais tarde
ainda tiver fome
dessas de bom apetite
escolho um carneiro
uma perna de preá
uma cabeça de frade
um mandacaru florido
cacto sem espinho
e da brancura da manhã
faço uma coalhada
derramada na farinha
do sol ardente
e depois como tudo
deixando só o sertão
que guardo para depois
quando estiver na cidade
e nada me satisfazer
a fome de sertanejo.
Rangel Alves da Costa
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